Ideia principal: Três símbolos nos remitem hoje a realidades
profundas: o asno, uns gritos e uma cruz.
Síntese da mensagem: Com este domingo damos início à Semana
Santa ou Grande Semana, que é metade Quaresma (até a Eucaristia da Quinta-feira)
e metade Tríduo Pascal (desde essa Eucaristia até a Vigília Pascal e logo todo
o domingo). Este domingo tem duas dimensões: os louvores que a multidão dedicou
a Jesus na entrada de Jerusalém, com palmas e Hosanas, e logo a Eucaristia,
mais adusta, com a leitura da Paixão do Senhor. E entre gritos e a cruz, um
asno.
Pontos da ideia principal:
Em primeiro lugar, o Senhor necessita do asno. Mas do asno
desamarrado e enfeitado ricamente. Esse asno, como todo respeito, somos cada um
de nós. Jesus quer nos usar para entrar em Jerusalém e ser proclamado como Rei.
Jesus quer entrar na cidade montado num burro. Isto é, poderia ter entrado
sozinho, mas quis “usar” o burro. É mais, graças- poderíamos dizer assim- ao
burro, a profecia foi cumprida. Isto me faz pensar em que Jesus quer sempre
usar um “burro” para entrar na cidade dos homens. E Ele inventou esse burro:
chama-se Igreja. Construiu-a com doze alicerces (apóstolos) dentro dos quais
destacou um, Pedro. Fê-la crescer do seu lado aberto pela lança do Soldado e
lhe deu uma alma em Pentecostes: o Espírito Santo. Desde então é o
“instrumento” através do qual a salvação de Jesus chega à humanidade.
Que
maravilha a de estarmos, os batizados, associados dessa maneira à redenção que
estamos celebrando nesta Páscoa! Isso sim, não esquecer nunca o que fazemos
como “simples burros”. Que não aconteça conosco o que diz a simpática lenda,
que põe atenção nos “sentimentos” do burro. Este animalzinho estava tranquilo
na sua casa. De repente vem dois desconhecidos e o levam. Tratam-no muito bem
e, aliás, enfeitam-no ricamente. Alguém o monta, mas o burro não presta atenção
porque está embasbacado por tudo o que está acontecendo. E começa a caminhar
entre a multidão. As pessoas fizeram ramos de oliveiras e palmeiras e o gritam
vitórias proclamando o rei Messias. Então o burro se dá conta do famoso e
importante que é e para sobre as duas patas para cumprimentar as pessoas que o
aplaudem. Nesse mesmo momento… o rei de reis vai para o chão. Às vezes nos
colocamos no centro da fé: buscamos ser louvados, reconhecidos, escutados. E
nesse momento, Jesus termina no chão porque somos nós o centro.
Em segundo lugar, neste dia escutarmos dois tipos de gritos.
Uns de júbilo. Outros de desprezo. Quantos ao longo dos séculos gritaram vivas
a Cristo como Rei! Repassemos a guerra dos cristeiros em México e também a
guerra civil espanhola: quantos morriam martirizados gritando com orgulho e
decisão: “Viva Cristo Rei!”. O beato José Luís (assim o chamavam os seus
companheiros cristeiros) e que este ano será proclamado santo, com apenas 13
anos de idade, entrou nas filas do glorioso exército dos cristeiros, que
defendiam a sua fé e proclamavam que Cristo era Rei da sua Pátria, por cima da
opressão que o governo de Plutarco Elias Calles exercia sobre os católicos
mexicanos. Eram os tempos da perseguição religiosa e dos mártires de Cristo
Rei. Conduziram-no ao seu povoado natal, Sahuayo, onde os soldados do governo
tentaram fazê-lo renegar da sua causa cristeira e inclusive que passasse ao outro
bando para lutar contra os cristeiros. José sempre rejeitou indignado todas
essas propostas. Depois de vãs tentativas, decidiram acabar com ele. Primeiro o
torturaram cortando as plantas dos seus pés, para depois obrigá-lo a caminhar
com os seus pés ensanguentados pelas ruas cheias de pedras do povoado até o
cemitério, onde finalmente o remataram. Enquanto o conduziam os soldados até o
campo-santo, o menino cristeiro não cessava de aclamar Cristo Rei diante do
assombro e a raiva dos soldados, e a admiração do povo que presenciou o seu
martírio. Ao chegar no lugar, colocaram-no ao lado de uma fossa, enquanto ele
continuava gritando vivas a Cristo Rei. Então se balançaram uns esbirros contra
ele e o encheram de punhaladas e de tiros. Caiu no buraco e o taparam,
retirando-se depois satisfeitos da sua façanha. Durante essa Paixão, Cristo
teve que também escutar gritos de desprezo, da boca daqueles que o odiavam por
não conhece-lo e sempre por instigação de Satanás que queria enfraquecer a
missão de Cristo e deter “a hora” do relógio da salvação. “Crucifica-o!”.
Finalmente, a cruz. E Cristo chegou à cruz, com a ajuda do
cireneu, das santas mulheres, da Verônica e sobretudo da sua Mãe Santíssima,
que o sustentou sempre, especialmente neste trance duríssimo. E desde a cruz
nos deixou o seu Testamento. E nessa cruz Ele se deixou pregar voluntariamente
para cumprir o plano de salvação que o seu Pai lhe tinha incumbido. E essa cruz
está aí impertérrita, embora o mundo dê mil voltas, como reza o lema dos
Cartuxos: “Stat Crux dum volvitur orbis” (A Cruz estável enquanto o mundo dá
voltas, ó Cruz constante enquanto o mundo muda). E é também essa cruz que cada
um de nós tem que pegar e levar, porque somos discípulos de Cristo. E nessa
cruz temos que pregar os nossos pecados nesta Sexta- Feira Santa, como disse
Cristo a São Jerônimo: “Só te falta uma coisa para me entregar, Jerônimo: dá-me
os teus pecados para que possa perdoá-los”. O santo começou a chorar de emoção
e exclamava: “Louco tens que estar de amor, quando me pedes isto!”. E com essa
cruz, venceremos o inimigo, pois “in hoc signo vinces” (com este sinal
vencerás), como fez o imperador Constantino, por inspiração divina, contra
Majencio ao gravar sobre as suas bandeiras essas letras. E essa cruz será o
estandarte que levaremos ao céu para ser reconhecidos como seguidores de
Cristo.
Para refletir: Coloquei-me nas mãos de Cristo, como dócil e
humilde “asno” para que Ele possa entrar em todos os lugares, ou quero eu
receber os aplausos pelas minhas boas ações? O que grita a minha vida: “Viva
Cristo Rei!”, ou, ao contrário, “Crucifica-o!”? Vou deixando que a cruz de
Cristo vá incorporando-se na minha vida, na minha vontade, na minha
afetividade, na minha mente?
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