Síntese da mensagem: A liturgia de hoje continua dando
pistas para viver melhor o ano da misericórdia. A misericórdia de Deus nos
convida a não recordar o passado (1 leitura), pois as águas impetuosas da sua
graça limparam a nossa consciência no dia do batismo, abriram caminho no
deserto da nossa vida e fizeram correr rios na terra árida do nosso coração.
Essa misericórdia divina, como a São Paulo, alcançou-nos e nos conquistou,
lançando-nos para frente, sem olhar para trás, rumo a meta da santidade (2
leitura). Finalmente, essa misericórdia divina se encarnou em Cristo que não
confissão nos absolve dos nossos pecados e nos coloca o compromisso: “Vai e não
peques mais” (Evangelho) e também a não atirar a pedra da nossa condena a
ninguém, pois não somos juízes.
Pontos da ideia principal:
Em primeiro lugar, quem pode atirar a primeira pedra contra esta
mulher surpreendida em adultério? Esta mulher do evangelho é solteira, virgem e
noiva. Por isso os acusadores, juristas de profissão, pedem contra ela a pena
de morte a pedradas e, assim, por lapidação se executavam então a adultera
solteira, virgem e noiva prometida (cf. Dt 22,24), porque a outra, a adultera
casada, era executada livremente (cf. Lv 20,10; Dt 22,22), ordinariamente por
estrangulação. Que aqui tem adultério, sim tem, porque os acusadores sabem o
que estão colocando em jogo se estiverem mentindo, porque ela sabe a morte que
a espera e não se queixa, porque Jesus lhe diz: “Não peques mais”. Sinal de que
tinha pecado. Sinal de que o adultério é pecado e, a julgar pelo castigo legal,
pecado grave e, segundo a doutrina de São Paulo, pecado mortal de condenação
eterna (cf. 1 Cor 6,9). E o que aconteceu com o homem que a adulterou? Talvez
era um fugitivo porque, embora os pegassem em flagrante, nem rastro. Pulou a
janela? Quando o marido entra pela porta, o adúltero pula pela janela, às vezes
cai de mal jeito no chão e fica coxo para toda a sua vida. Este casado adúltero
tem a seu favor a lei do funil: para o homem o amplio, para a mulher, o agudo.
Muito se encasquetam os homens e as mulheres com a adúltera: elas, com as suas
críticas a marcam com fogo, como uma res, para os restos. E eles, dispostos a
apedrejá-la. Amigo, aqui ninguém atira uma pedra nem a pega do chão nem a toca
nem a olha! Porque não existe um só inocente no mundo, aqui todos pecadores. E
os piores, os pecadores do mesmo pau, que apedrejam os seus iguais para
dissimular o seu pecado pessoal. Os piores são os jovens, ainda ingênuos, mas
os velhos, com mais trapaças que anos, arteiros nisso de jogar pedra e esconder
a mão.
Em segundo lugar, Jesus jogará a pedra? Se Jesus escolher deixar
de lado o mandado bíblico poderia ser acusado de quebrantar a lei de Deus e,
portanto, condenado; se escolher se afastar neste caso do que ensinado- amor e
misericórdia- contradiria os seus próprios ensinamentos, perdendo assim toda
autoridade. Porém, como ao longo de todo o evangelho, os inimigos se verão
confundidos pela sabedoria do Mestre que os deixa sem resposta e os põe diante
da obrigação de mudar, eles sim, de atitude diante da verdade que lhes é
denunciada. Cristo usa com esses inimigos um técnica com estes passos:
primeiro, a indiferença, “inclinando-se começou escrever no chão com o dedo”.
Segundo, diante da insistência para atirar a pedra, Jesus dá uma resposta
habilíssima que consegue três fins: colocar-se do lado da lei, com o qual não poderão
acusá-lo; perdoar a pecadora, que é o que o seu coração quer, e confundir a
maldade dos hipócritas: “O que não tiver pecado, que atire a primeira pedra”.
Convida-os a entrar dentro de si mesmos. Quem faz isto, descobre que é pecador
também. Mas os fariseus e escribas estavam cegos pela soberba. Jesus, que
condena o adultério, salva a adúltera: “Tampouco eu te condeno” à morte.
Condena-se o pecado, mas não o pecador. Na história da humanidade, teve só um
homem inocente que, chegado o momento de jogar a primeira pedra, agachou-se,
rabiscava o chão, fez-se o distraído, espantou todos os acusadores e, erguido,
disse à mulher já de pé: “Tampouco eu te condeno”.
Finalmente, o que nós podemos aprender hoje? Quantos de nós
talvez guardamos pedras para jogá-las contra os nossos irmãos pecadores!
Quantos já atiraram pedras com a língua afiada, com atitudes de ódio, de
desprezo e de silêncio! Quantos já estão dispostos a jogá-las contra os
governantes, contra o Papa, os bispos, sacerdotes, chefes de trabalho,
parentes, vizinhos, paroquianos, companheiros de grupo…! Aprendamos estas
coisas: primeiro, não desesperemos diante dos nossos pecados, pois Deus é
misericórdia. Segundo, não demoremos a conversão ao Senhor nem a atrasemos de
um dia para outro. Terceiro, a finalidade da lei é a glória de Deus e a
salvação do homem. Quem a aplica sem caridade, como estes fariseus do evangelho
de hoje, sem buscar que o pecador se arrependa e recupere a dignidade de filho
de Deus, contradiz a vontade do mesmo Deus, que quer que todos se salvem (1 Tm
2,4). Ai daquele que se cobre com a máscara da justiça e da virtude, sem
caridade no coração! Sim, devemos ser inflexíveis com o pecado, mas cheios de
misericórdia com o pecador.
Para refletir: Julgo os meus irmãos? Tenho misericórdia no
meu coração? Meditei suficientemente nesta frase de Cristo: “Porque à medida
com que medirdes, também vós sereis medidos” (Mt 7,2)?
Para rezar: Senhor, tende piedade de mim que sou um pecador.
Neste ano da misericórdia, dai-me um coração misericordioso como o vosso.
Comentário sobre a liturgia do Pe. Antonio Rivero, L.C.
Doutor em Teologia Espiritual, professor e diretor espiritual no seminário
diocesano Maria Mater Ecclesiae de São Paulo (Brasil)
Nenhum comentário:
Postar um comentário