Síntese da mensagem: Se no domingo passado Cristo anunciava
a sua Paixão e convidava os seus seguidores a carregar também eles a sua cruz
cada dia, agora se aproxima a hora da verdade e se encaminha com decisão à
Jerusalém, dando por terminada a sua pregação em terras de Galileia. A Eliseu
custou seguir Elias, despedir-se dos seus pais e sacrificar a sua junta de
bois, que era o que tinha (1 leitura). Este desprendimento radical e seguimento
de Cristo tem que ser na liberdade e desde a liberdade (2 leitura).
Pontos da ideia principal:
Em primeiro lugar, Deus pediu radicalidade aos profetas.
Abramos a Bíblia. Hoje mesmo na primeira leitura. Elias no campo, viu Eliseu
com os bois que aravam, tirou o manto e se lançou sobre os seus ombros.
“Deixa-me dizer adeus aos meus pais”, pediu-lhe. “Vai e volta”, disse-lhe
Elias. Quando voltou, sacrificou os seus dois bois, assou-os no fogo dos
instrumentos de lavoura, celebrou com os seus trabalhadores a ceia do adeus e
foi embora com o profeta (cf. 1 Re 19, 16-21). A permissão que pede para se despedir
dos seus pais não tem como finalidade procrastinar a sua decisão, mas servirá
precisamente para mostrar a sua radicalidade. A Abraão mandou sair da sua terra
e ir a outra que Deus lhe indicaria. A Moisés ordenou ir diante do faraó e dar
um discurso que nada tinha de gelatina mole. E do mesmo jeito com Isaias, a
quem um querubim purificou os lábios com uma brasa do altar (cf. Is 6, 6-7); a
Jeremias o mesmo Deus tocou os lábios (cf. Jer 1,9); a Ezequiel deu para comer
um livro enrolado que tinha gosto de méis (cf. Ez 3, 1-3); a Jonas, que mandou
pregar uma dura mensagem de conversão ao povo de Nínive. Deus foi radical com
os profetas. Ninguém pode negar isso. Ele é o Senhor, o Criador. Nós, as suas
criaturas e os seus servos. Sim, também será Pai. Mas teve que vir Cristo para
revelá-lo.
Em segundo lugar, Cristo pediu radicalidade aos apóstolos.
Porque cristão é mais do que profeta. O evangelho é mais exigente que o Antigo
Testamento. Abramos o evangelho de hoje. Jesus, a um que pedia a permissão do
adeus aos seus pais que Eliseu fez a Elias, respondeu-lhe que “o que põe a sua
mão no arado e continua olhando para trás, não serve para o Reino de Deus”. É
ou não é exigente e radical este Jesus? E à pressa que seguia: sabes que se as
raposas têm as suas tocas e as aves os seus ninhos, tu não terás nem sequer um
travesseiro para recostar a cabeça. De outro não aceita a desculpa dilatória de
que tem que enterrar o seu pai: “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos”.
Outra vez radicalidade, porque tem muito trabalho e não podemos nos entreter em
coisas secundárias. No primeiro caso, vemos que não por ser bons cristãos, ou
por seguir a vocação religiosa ou ministerial, prometem-se vantagens temporais.
Com a segunda resposta, Jesus não desautoriza certamente a boa obra de enterrar
os mortos. O que temos que ver é que não podemos procrastinar o nosso
seguimento e o nosso trabalho pelo Reino. Tem que renunciar os laços da família
se nos pede a missão evangelizadora, como fazem tantos cristãos quando se
sentem chamados à vocação religiosa ou ministerial…, e tantos missionários,
também leigos, que decidem trabalhar por Cristo deixando tudo. Não podemos
fazer uma cirurgia estética no evangelho por respeito ao Respeitável. Estes do
evangelho de hoje, seguiram Jesus diante de tanta radicalidade, ou resolveram
“picar a mula”, isto é, fugir e não voltar a saber mais nada de Jesus?
Finalmente, Cristo nos pede e nos pedirá radicalidade a
todos nós, isso está claro. Portanto, diante do evangelho temos que escolher:
radicalidade ou frivolidade; radicalidade ou evangelho para colocar no bolso e
com edição reduzida; radicalidade ou evangelho light. Pois parece que o homem
atual sim está para radicalismos religiosos! Boa está a religião e a Igreja
para exigir deles! O radicalismo que pede o evangelho é a fé ou aceitação
radical de Jesus como Filho de Deus, a esperança ou confiança radical em Jesus
como salvador do mundo e a caridade ou entrega radical à vontade de Deus. A
radicalidade do evangelho está em pensar como Jesus pensava, taxar e valorizar
as coisas como Ele fazia, trabalhar como Ele trabalhou e amar como Ele amou,
adorar como Ele adorava, chorar e perdoar como Ele fazia, morrer como Ele
morria para ressuscitar. A radicalidade evangélica é triple: a disponibilidade
sem condições a Deus; a entrega a Deus sem contemplações, e a vida consequente
e sem exceções. É a exigência de Jesus aos seus, aos cristãos. Esta
radicalidade se concretiza na vivência dos mandamentos, na moral matrimonial,
na moral sexual e na doutrina social da Igreja. Quem não entender esta
radicalidade, sempre estará pondo “almofadas” às exigências de Cristo e tentará
aguar a radicalidade evangélica. Quem se entregar a esta radicalidade, será
livre no seu interior, sobretudo será livre do egoísmo e viverá segundo o
Espírito (2 leitura).
Para refletir: Aceitamos ou não esta radicalidade de Jesus?
Por que? Por medo do inferno ou por amor e santo temor de Deus? Trato de viver
esta radicalidade no meu matrimônio, na minha família? Os apóstolos deixaram os
seus barcos e as suas redes; Eliseu, os seus bois e a sua família… o que sou
capaz de sacrificar para ser fiel à minha vocação cristã no meio do mundo que
tem outro estilo de vida?
Para rezar: Rezemos com Santo Inácio de Loiola.
Tomai, Senhor, e recebei
Toda a minha liberdade,
A minha memória,
O meu entendimento
E toda a minha vontade;
Tudo o que tenho e tudo o que sou.
Destes-me tudo,
A Vós, Senhor, devolvo.
Tudo é vosso:
Disponde de tudo
Segundo a vossa Vontade.
Dai-me o vosso Amor e Graça,
Que isto me basta.
Amém.
Comentário sobre a liturgia do Pe. Antonio Rivero, L.C.,
Doutor em Teologia Espiritual, diretor espiritual e professor de Humanidades
Clássicas no Centro de Noviciado e de Humanidades da Legião de Cristo em
Monterrey (México)
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