Papa Francisco realiza catequese sobre os sete dons do
Espírito Santo
Desde o nosso batismo, o Espírito Santo habita em nossa alma
e produz aí os seus frutos e dons para nos conduzir ao amor de Deus e ao
serviço dos irmãos. Eles nos ajudam a vencer o pecado e viver de acordo com as
leis morais. Eles são indispensáveis à santificação do cristão mesmo na vida
cotidiana, e não apenas para as grandes obras. O dom da ciência faz que o
cristão penetre na realidade deste mundo sob a luz de Deus; vê cada criatura
como reflexo da sabedoria do Criador e como caminho a Deus. Leva o homem a compreender
o vestígio de Deus que há em cada ser criado. O homem foi feito para Deus e só
n'Ele pode descansar, como disse Santo Agostinho. Por este dom o cristão
reconhece o sentido do sofrimento e das humilhações no plano de Deus, que
liberta e purifica o homem.
O dom do entendimento ou inteligência nos ajuda a penetrar
no íntimo das verdades reveladas por Deus e entendê-las. Por ele o cristão
contempla os mistérios da fé. É um entendimento diferente daquele que o teólogo
obtém pelo estudo; o que é penoso e lento. O dom da inteligência é eficaz mesmo
sem estudo; é dado aos pequeninos e ignorantes, desde que tenham grande amor a
Deus.
O dom da sabedoria nos dá um conhecimento da verdade
revelada por Deus. Abrange todos os conhecimentos do cristão e os põe sob a luz
de Deus, mostra a grandeza do plano do Criador e a sua onipotência. Vem da
intimidade com o Senhor. “O dom da sabedoria faz-nos ver com os olhos do
Bem-amado”, dizia um grande místico. Isto não quer dizer que devemos
menosprezar o estudo, pois, se Deus nos deu a inteligência, foi para que a
apliquemos à verdade, que é Ele mesmo. Os teólogos afirmam que veremos a Deus
face a face por toda a eternidade na proporção do amor com que O tivermos amado
nesta vida.
O dom da piedade nos orienta em todas as relações que temos
com Deus e com o próximo. São Paulo se refere a isso: “Recebestes o Espírito de
adoção filial, pelo qual bradamos: Abbá ó Pai” (Rm 8,15). O Espírito Santo,
mediante o dom da piedade, nos faz, como filhos adotivos de Deus, reconhecer
Deus como Pai. E, pelo fato de reconhecermos Deus como Pai, consideramos as
criaturas com olhar novo. Este dom nos leva a considerar o fato de que Deus é
sumamente santo e sábio: “Nós vos damos graças por vossa grande glória”. É o
dom da piedade que leva os santos a desejar, acima de tudo, a honra e a glória
de Deus. “Para que em tudo seja Deus glorificado”, diz São Bento. E Santo
Inácio de Loiola exclama: “Para a maior glória de Deus”. É também o dom da
piedade que desperta no cristão a inabalável confiança em Deus Pai, como, por
exemplo, Santa Teresinha. Este dom leva o cristão a ver o outro como irmão e a
amá-lo como filho de Deus.
O dom da fortaleza nos dá força para a fidelidade à vida
cristã, cheia de dificuldades. Jesus disse que “o Reino dos céus sofre
violência dos que querem entrar, e violentos se apoderam dele” (Mt 11,12). Pelo
dom da Fortaleza o Espírito Santo nos dá a coragem necessária para a luta
diária contra nós mesmos, nossas paixões e problemas, com paciência, perseverança,
coragem e silencio. Nos dá forças além das naturais. Esta força divina
transforma os obstáculos em meios e nos dá a paz mesmo nas horas mais difíceis.
Foi o que levou São Francisco de Assis a dizer: “Irmão Leão, a perfeita alegria
consiste em padecer por Cristo, que tanto quis padecer por nós”.
O dom do temor de Deus nos leva a amá-Lo tão profundamente
que tenhamos receio de ofendê-Lo. Nada tem a ver com o temor do mercenário ou o
temor do castigo (do escravo); mas é o temor do amor do filho. É a rejeição que
o cristão experimenta diante da possibilidade de ofender a Deus; brota das
entranhas do amor. Não há verdadeiro amor sem este tipo de temor. Medo de
ofender o Amado. Pelo dom do temor de Deus a vitória é rápida e perfeita, pois
é o Espírito que move o cristão a dizer "não" à tentação. O dom do
temor de Deus está ligado à virtude da humildade, que nos faz conhecer nossa
miséria, impede a presunção e a vã glória, e assim, nos torna conscientes de
que podemos ofender a Deus; daí surge o santo temor de Deus. Ele se liga também
à virtude da temperança; combate a concupiscência e os impulsos desordenados do
coração, para não ofender e magoar a Deus.
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