A compaixão é a origem, o suporte e a meta da
missão!
Depois do convite dirigido a Mateus, e depois
da confraternização simbólica com os pecadores celebrada na sua casa, Jesus faz
uma peregrinação através do santuário das dores e esperanças humanas,
anunciando a Boa Notícia do Reino a jovens que morriam antes do tempo; a
mulheres vergadas sob o peso de doenças incuráveis; a cegos e mudos mutilados
em sua cidadania... Trata-se de uma peregrinação e não de uma viagem turística!
Em Jesus, Deus não quis fazer um simples passeio no mundo: ele assumiu a fundo
nossa condição humana.
Andando pelos caminhos empoeirados da
Galileia, Jesus não tem pressa. Ele vê e contempla a realidade e as pessoas
profunda e demoradamente. Ele ousa ver e encarar a realidade humana e social
assim como ela é, e seu olhar não tem nada de passividade, e menos ainda de
indiferença. É um olhar comprometido e capaz de ver, por traz dos rostos
tristes e dos corpos encurvados, as feridas provocadas pelas relações e
instituições violentas e opressoras. “Vendo as multidões, Jesus teve compaixão,
porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor.”
O olhar de Jesus não identifica apenas doentes
terminais, mortes inexplicáveis ou cegueiras causadas por espíritos maus. Ele não
enxerga também apenas uma multidão indiferenciada e anônima. Ele vê gente cansada
e abatida, um povo sem líder e sem guia. Um povo cansado é um povo sem
esperança e sem ânimo. Um povo abatido é um povo espoliado e defraudado. Um
rebanho sem pastor é um coletivo desorientado e indefeso. Para Jesus, o que
faltava ao povo não eram autoridades, mas líderes verdadeiros, guias
comprometidos com a busca de saídas benéficas ao povo.
Diante do cansaço e do abatimento de um povo
humilhado, as entranhas maternas de Deus tremem, e ele revela sua capacidade de
sofrer com seus filhos e filhas. Deus rejeita como indigna e pecaminosa toda
forma de indiferença frente à dor das suas criaturas. E é esta compaixão que está
na origem da missão de Jesus, e a sustenta até o fim. Mas, diante da imensa
tarefa de anunciar a Boa Notícia de um Deus misericordioso e de sinalizar sua
presença através de ações libertadoras, Jesus se vê pequeno. E a pequena
comunidade que o segue também lhe parece insuficiente.
“A colheita é grande e os trabalhadores são
poucos...” Usando estas palavras que sublinham a disparidade entre a grandeza
da tarefa e a pequenez do seu grupo, Jesus nos estimula a pedir mais
colaboradores. Mas oração dirigida ao Pai, ao “dono da colheita”, é o ponto
final de um empenho profundo e pessoal para identificar, despertar, motivar e
formar homens e mulheres com generosidade suficiente para se engajar na missão
de Jesus Cristo. divide com seus
discípulos capazes de compaixão a responsabilidade de curar enfermidades e
dissipar espíritos que escravizam as pessoas.
A partir desse modo de ver a realidade, Jesus prossegue
estabelecendo uma prioridade aos seus escolhidos: “Vão primeiro às ovelhas
perdidas da casa de Israel”. Trata-se de priorizar o povo de Israel, abandonado
pelos próprios pastores: doentes, cegos, coxos, loucos, estrangeiros, mulheres,
crianças, pecadores... E é por causa dessa prioridade histórica que ele
recomenda que eles não entrem na casa dos pagãos e nas cidades dos samaritanos.
Seus discípulos não poderiam fazer tudo ao mesmo tempo! Mas, depois dessa
prioridade cronológica, virão outros grupos sociais e religiosos necessitados...
Vivemos hoje numa sociedade de comunicação
globalizada, e temos clara consciência de que os apelos que solicitam nossa
alma missionária são múltiplos e globais. E são desafios maduros, como campos
prontos para a colheita, que correm o risco de se perderem. Responder
honradamente a estes desafios não é responsabilidade que pode ser assumida
apenas por esta ou aquela congregação religiosa, por uma ou outra Igreja
cristã. Esta é uma missão que convoca e compromete todos os cristãos, e todos
os homens e mulheres de boa vontade, aqueles que tem fome e sede de justiça.
Jesus de Nazaré, primogênito dos humanos e
peregrino no santuário das nossas dores e esperanças! Cumprindo a decisão do
coração do teu e nosso Pai, não levas em conta nossos limites e os méritos que
não temos, e nos tornas amigos de Deus, criaturas novas e reconciliadas. Que
prova de amor essa de dar tua vida por nós, sem levar em conta nossos débitos!
Ensina-nos a compaixão que comoveu teu coração, abriu teus olhos, afinou teus
ouvidos, moveu teus passos, iluminou tua inteligência e fortaleceu tua vontade.
E ajuda-nos a permanecer neste caminho, identificando e despertando pessoas de
boa vontade que se encantem e se consumam na tarefa de levar adiante tua
missão. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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