O Castelo Interior traça a pauta em que o leitor se sente
constituído em relação com os semelhantes e com Jesus ressuscitado. Com a sua
antropologia essencialmente bíblica, Santa Teresa de Jesus via-se a si própria
e ao cristão como habitados.
Para ela, Deus não vem de fora. Está dentro, no fundo do
nosso eu, que é essencialmente relação.
Se já segundo a espiritualidade bíblica da criação o ser
humano é imagem de Deus, segundo a teologia de São Paulo, bem assimilada por
Teresa, o ser humano está habitado pela graça, que é o Espírito Santo de Jesus
ressuscitado, ator da vida do cristão:
“Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20)
“O Espírito de Deus habita em vós… Cristo está em vós… Se o
Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vós, aquele
que ressuscitou Cristo dentre os mortos dará também a vida aos vossos corpos
mortais pelo Espírito que habita em vós” (Rm 8,9-11)
Aqui encontrou o fundamento teológico para o livro das
Moradas. A sua antropologia é profundamente bíblica: o seu Cristo é o Deus
encarnado ressuscitado, que está no ser humano. Teresa acode frequentemente à
Bíblia para descrever essa presença em si própria e para dar a conhecer que
aquilo que a habita é relação, amor.
Em cada Morada deste itinerário, os atores principais são o
ser humano e Jesus Cristo, em relação dinâmica um com o outro. A relação tende
para o encontro, que, segundo Santa Teresa, se dá na fé e na oração, também
iluminada por textos bíblicos.
Entre os temas, conteúdos e expressões que Teresa foi buscar
na Bíblia está o que da forma mais original caracteriza o Castelo Interior: o
de apontar para a enorme dignidade/mistério do ser humano, dotado de alma
“capaz de Deus”, capaz de se comunicar com Deus. Para Teresa, a do ser humano é
uma vida habitada, habitada por uma Presença e pelo Mistério interlocutor de
quem exerce a arte de orar.
Ao serem chamados por Jesus, os discípulos perguntaram-lhe:
“Onde moras? Respondeu-lhes: vinde e vereis. Foram, viram onde morava e ficaram
com Ele aquele dia” (Jo 1,38-39). Se hoje lhe fizerem a mesma pergunta (“Onde
moras?”), Jesus pode responder como a Teresa: “Busca-me em ti”:
E se acaso não souberes
Em que lugar me perdi,
Não andes daqui para ali,
Porque se encontrar-me queres,
A mim me acharás em ti (Poesia 4).
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