Ideia principal: “Guardai-vos de toda cobiça”. Diante dos
bens materiais, nem desprezo, nem apego, mas o “tanto quanto” de santo Inácio
de Loiola.
Síntese da mensagem: “A avareza rompe o saco”. Esta frase
proverbial parte da imagem de um ladrão que ia pondo num saco quanto roubava e
quando, para que coubesse mais, apertou o que tinha dentro do saco, rompeu-se.
A cobiça rompe o saco é uma forma mais antiga do que a avareza rompe o saco,
como mostra a sua presença em obras como La Lozana Andaluza 252, El Guzmán de
Alfarache, essa novela picaresca de Mateo Alemán, El Quijote I 20, II 13 y 26.
Uma forma sinônima aparece no El Criticón de Baltasar Gracián: por não perder
um bocado, perdem-se centos. O coração do cobiçoso não repousa nem sequer de
noite (Evangelho). Busquemos as coisas do alto (2 leitura), poia as daqui
debaixo não saciam e são perecedouras (1 leitura).
Pontos da ideia principal:
Em primeiro lugar, diante dos bens materiais não cabe o
desprezo. Jesus não está nos convidando a desprezar os bens da terra
(evangelho). São bons e lícitos, e se conseguidos honestamente nos ajudam a
levar uma vida digna e sem apuros, em ordem a ter uma casa confortável e um
trabalho remunerado, alimentar e sustentar a família, oferecer uma boa educação
aos filhos e ajudar os necessitados. A riqueza em si não é boa nem má: o que
pode ser mau é o uso que fazemos dela e a atitude interior diante dela. Se
Jesus chamou tonto ou insensato o rico do evangelho, não é porque fosse rico,
ou porque tivesse trabalhado pelo seu bem-estar e o da sua família, mas porque
tinha programado a sua vida prescindindo de Deus e esquecendo também a ajuda
aos outros. A cobiça leva os homens a expressar um profundo amor pelas posses,
o que os constitui em idólatras.
Em segundo lugar, diante dos bens materiais seria muito mal
para nós nos apegar ou idolatrá-los. Basta abrir a Sagrada Escritura: Judas foi
cobiçoso e entregou o seu Mestre; Davi cobiçou Betsabè e cometeu assassinato;
Jacó cobiçou os direitos do seu irmão e o incitou a desprezá-los; os filhos de
Jacó cobiçaram o amor do pai e por inveja quiseram matar o seu irmão José;
Ananias e Safira mentiram e morreram. A cobiça é um pecado tão antigo como
sutil. No mundo em que vivemos, materialista por excelência, não é nada
esquisito que nos vejamos tentados pela cobiça. A Palavra de Deus nos fala da
origem da cobiça, dos seus efeitos e de como enfrentá-la. Este refrão que
ligado à fabula de Esopo que fala do cachorro e o reflexo no rio. Um cachorro
que ia com um pedaço de carne no seu focinho e ao passar por uma ponte viu a
sua imagem refletida na água… pensou que era outro cachorro que tinha um pedaço
maior e quis tomar dele… O resultado: ficou sem nada. Qohelet (1 leitura) nos
convida a relativizar os diversos afãs que costumamos ter com o seu tom
pessimista: “vaidade, tudo é vaidade”, que também podemos traduzir assim:
“vazio, tudo é vazio”. A riqueza não nos dá tudo na vida, nem é o principal: a
morte relativiza tudo. É sábio reconhecer os limites do que é humano e ver as
coisas no justo valor que têm, transitório e relativo. Tanta preocupação e
tanta angustia, inclusive do trabalho, não pode nos levar a nada sólido. A
nossa vida é como a erva que esta fresca de manhã e de tarde já está seca
(Salmo). Jesus no evangelho nos convida ao desapego do dinheiro porque não é um
valor absoluto nem humanamente nem cristãmente. Por cima do dinheiro está a
amizade, a vida de família, a cultura, a arte, a comunicação interpessoal, o
são desfrute da vida, a ajuda solidaria para com os outros. Tem que ter tempo
para sorrir, jogar, “perder tempo” com os familiares e amigos.
Finalmente, diante dos bens materiais a dica de santo Inácio
de Loiola: “tanto quanto”. A regra do “tanto quanto” é importante para todos os
mortais. Não se trata de uma doutrina filosófica, nem de um planejamento
econômico, nem de um projeto político, mas poderia servir para tudo. O grande
santo Inácio de Loiola, nos seus Exercícios Espirituais, apresenta isto com as
seguintes palavras: “O homem é criado para louvar, fazer reverência e servir a
Deus nosso Senhor e, mediante isto, salvar a sua alma; e as outras coisas sobre
a face da terra são criadas para o homem e para ajudá-lo na prossecução do fim
para o qual foi criado. De onde se segue, que o homem tanto há de usar delas,
quanto o ajudem para o seu fim, e tanto deve privar-se delas, quanto o impeçam
para isto. Com isto é preciso fazer-nos indiferentes a todas as coisas criadas,
em tudo que é concedido à liberdade do nosso livre arbítrio, e não está
proibido; de tal forma, que não queiramos, da nossa parte mais saúde do que
doença, riqueza do que pobreza, honra do que desonra, vida longa que curta, e,
por conseguinte no resto; somente desejando e elegendo o que mais nos conduz
para o fim que somos criados” (Exercícios, n° 23). Esta regra, de alguma forma
é usada por todas as pessoas, mas não no sentido no que exige Santo Inácio,
porque todos buscam as criaturas, tanto quanto possam enriquecer, deleitar,
distrair, divertir. É uma ótica totalmente diversa, já que a maioria emprega a
filosofia do tanto quanto, só em conquistas terrenas, humanas, materiais,
esquecendo de aplicar esta fórmula nas nossas relações com Deus, no negócio
mais importante: a salvação da alma. Só quanto temos Cristo como Senhor das
nossas vidas, podemos estar seguros de que morreremos mais e mais ao pecado e
viveremos mais e mais para Ele, interessando-nos pela salvação da alma.
Para refletir: Onde coloco a minha felicidade: nas coisas
materiais e perecedouras ou nas coisas eternas e incorruptíveis? Poderia
afirmar de verdade que uso e desejo tudo é de proveito para
a minha salvação eterna? Peco de cobiça, aceitando subornos, aproveitando-me do
débil para o meu benefício, defendendo o injusto, ardendo de inveja, vivendo
sempre descontente com o que tenho?
Para rezar: Deus Todo-poderoso que impulsionastes santo
Antônio Abade a abandonar as coisas deste mundo para seguir em pobreza e
solidão o Evangelho do vosso Filho, pedimos-vos que, a exemplo dele saibamos
nos desprender interiormente e exteriormente de tudo o que nos impede de vos
amar e de vos servir com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças.
Por Jesus Cristo, vosso Filho, nosso Senhor. Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário