"Este tempo maravilhoso de Páscoa, que foi encerrado
com o Domingo de Pentecostes, nos colocou diante dos olhos a unidade da obra do
Pai, do Filho e do Espírito Santo. Cristo veio cumprir a obra do Pai e nos deu
seu Espírito, para que ficássemos nele e mantivéssemos a obra do Pai e nos deu
seu Espírito, para que ficássemos nele e mantivéssemos o que Ele fundou,
renovando-o constantemente, neste mesmo Espírito.
Assim, a festa de hoje vem
contemplar o tempo pascal, como uma espécie de síntese. Síntese, porém, não
intelectual, mas “misterial”, isto é, celebrando a nossa participação na obra
das pessoas divinas. A festa da Santíssima Trindade sempre foi celebrada no
domingo seguinte ao domingo de Pentecostes, com a finalidade de mostrar o
triunfo da Santíssima Trindade na história da salvação: o Pai Criador, o Filho
Salvador, o Espírito Santo que renova e refaz todas as coisas.
Foi Jesus quem revelou que no Deus único há três pessoas
distintas. Santo Antônio afirmou que na Palavra Pax está contida a revelação do
mistério da Trindade: “Note que na palavra pax, paz, há três letras e uma
sílaba, em que se designa a Trindade e a Unidade: no P, o Pai; no A, primeira
vogal, o Filho, que é a voz do Pai; no X, consoante dupla, o Espírito Santo,
procedente de ambos. Assim, ao dizer: A paz esteja convosco, recomenda-nos
Cristo a fé na Trindade e na Unidade”.
O Concílio Ecumênico Vaticano II afirma que o dogma da
Santíssima Trindade é o centro de nossa fé.
O próprio Cristo envia os seus discípulos para a missão determinando
que o mandato do batismo seja efetuado em nome da Trindade Santíssima: “Ide
pelo mundo e batizai a todos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (cf.
Mt 28,19). A existência de um Deus único, com uma só natureza divina, mas
distinto em três pessoas, é revelação de Jesus.
Por isso a Santíssima Trindade permeia toda a vida do
cristão. Todas as vezes que fazemos o sinal da Cruz estamos invocando a
Santíssima Trindade. Quando fazemos o sinal da Cruz reverenciamos o Deus único
e verdadeiro, Pai, Filho e Espírito Santo. E, assim, também começa a Santa
Missa com a saudação inicial: “A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de
Deus-Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco”, quando pedimos que
Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo.
A Trindade está presente em tudo: no canto do glória quando
glorificamos ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo; bem como, no Credo, quando
renovamos a nossa fé no Deus uno e trino, Pai, Filho e Espírito Santo.
O mistério da Santíssima Trindade é a luz que ilumina todas
as verdades da fé. E é um mistério de amor profundo. A Trindade é a comunidade
perfeita, a comunidade de amor pleno. O Pai criou tudo por amor; o Filho, muito
amado pelo Pai constrói no mundo, com sua vida, um reino de amor, e o amor é um
dos grandes dons do Espírito Santo.
Deus nos ama de
tal maneira que nos enviou o Espírito Santo em auxílio da fraqueza e da miséria
de nossa fé, completando o nosso coração de esperança, avivando a fé em Jesus,
o Redentor, revestindo de tal maneira nossa vida a ponto de ser Ele quem reza
em nós e em nós rende louvores e graças a Deus. Deus Pai já não olha para o
nosso pecado e ignorância, mas vê o “o próprio Espírito, que advoga por nós em
gemidos inefáveis.” (cf. Rm 8,26)
A graça do Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito
Santo demonstram que o mistério de Cristo na Igreja só se entende considerando
a atuação das três pessoas divinas, o amor de Deus que se manifesta na graça –
no dom – de Jesus Cristo e opera na comunhão do Espírito Santo, que anima a
Igreja desde a ressurreição de Cristo. O resultado é somente a alegria.
Em nossa vida cotidiana, às vezes sombria, às vezes trágica
ou muito complicada, em que devemos cuidar de mil coisas que nos pressionam de
toda parte, a luz de Deus é o amor. Devemos voltar-nos para esta luz se não nos
quisermos desviar do verdadeiro fim de nossa existência. Gostaríamos de poder
dizer: “Aqui está Deus; Deus é assim...”. Mas não é possível. O próprio Deus
sai dos quadros e das imagens e se oculta naqueles que precisam de nós, e diz:
“Aqui estou!”. Esconde-se nos pequeninos da terra e diz: “Buscai-me aqui!” Quem
quer viver com Deus não se encontra diante de uma conclusão, mas sempre diante
de um início, novo como cada novo dia.
A proposta de Deus nasce de amor, explicita-se na encarnação
e morte de Jesus, e tem por finalidade dar a todos a vida eterna. O homem e a
mulher, em resposta ao chamado de Deus, consiste em aceitar ou não aceitar a
missão de Jesus, o Filho. Aceitar ou não exige uma decisão pessoal, de adesão
ao Evangelho da libertação e da vida nova. Jesus garantiu que o Espírito Santo
nos ajudaria a conhecer a Verdade e a discernir as coisas. A decisão passa pela
adesão ao Cristo Ressuscitado, o Redentor e Salvador, através de uma adesão
misteriosa e amorosa de docilidade ao Reino e ao Seguimento do Cristo.
Deus uno e trino que é indivisível. Indivisível, mas amoroso
e generoso na comunhão amorosa e eterna com a Trindade, devemos construir uma
vida do amor, com amor e para amar, como Cristo nos amou e amou a sua Igreja.
Sim, a solenidade da Santíssima Trindade, nos convida a buscar e viver a
integração da unidade na pluralidade em todos os sentidos.
Que a Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo acompanhe sempre
as nossas vidas e nos ajude a fazer a experiência amorosa de Deus. Vem Trindade
Santa, caminha conosco e nos dê a sua paz! Amém!"
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