Síntese da mensagem: Este mistério glorioso da vida do
Senhor se resume assim: Jesus, depois da sua vida na terra, de ter deixado
instituída a sua Igreja e ter-nos presenteado a sua presença ressuscitada e
perpétua nos sacramentos, voltou para o céu, de onde tinha descido para
realizar a salvação da humanidade, para se sentar à direita do Pai e ser o
nosso intercessor. E desde lá nos enviaria o Espírito Santo que guiaria a
Igreja e nos guiaria a cada um esse céu prometido e almejado por todo coração
humano.
Pontos da ideia principal:
Em primeiro lugar, neste dia o homem deveria almejar “voar”
ao céu. Conta a mitologia que o primeiro homem que realizou o sonho imortal de
todos os mortais, voar, foi Icaro, filho de Dédalo, o engenheiro construtor do
labirinto de Creta. Graças a umas asas de plumagem e vime, que o seu pai
construiu para ele e colou com cera nas suas costas, Icaro decolou um dia da
ilha de Creta rumo ao Olimpo, que era o céu dos deuses pagãos. Mas, ao
sobrevoar o mar Egeu, atravessou as nuvens, o sol pegou forte, derreteu a cera,
descolou as asas e, todo seu gozo num poço!, e o pobre Icaro caiu no mar entre
as ilhas de Samos, pátria pequena do teorema de Pitágoras, e a de Patmos,
desterro do evangelista São João.
Mas com o fracasso de Icaro a vontade dos
homens não terminou de decolar desde a terra ao céu. No dia 12 de abril de
1961, o cosmonauta russo Iuri A. Gagarin decolou da base siberiana de Baikonur
às 9:07 da manhã e, à bordo da sua cápsula espacial Wostok, em 89 minutos
traçou um eclipse de 175 e 327 Km de altura ao redor da terra. E embora este
russo se burlou de Deus dizendo: “Estive no céu e não encontrei Deus”, contudo,
o homem continua almejando o céu. E é uma verdade de fé que o céu existe. E que
ali está Deus. E que Jesus, um dia como hoje subiu ao céu pela vertical do
Olivete.
Em segundo lugar, Jesus não é nem um Icaro nem outro
Gagarin. Mas esta grande notícia da Ascensão do Senhor é de um evento teológico
de primeira magnitude, que desviou o curso da história humana, transtornou os
planos dos homens e hoje nós somos testemunhas disso. Ensina o seguinte:
terminaram as páginas da história em que alguns homens e mulheres privilegiados
viveram a proximidade imediata e sensível de Jesus ressuscitado, e agora tem
que passar página. Já nunca mais nenhum mortal voltará a vê-lo, ouvi-lo,
tocá-lo, senti-lo … de carne e osso. Passemos página. E agora começa a história
da presença ressuscitada, mística, mas real de Cristo que disse: “Eu estarei
com vocês todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28, 19-20). Começou a era da
igreja de Jesus, que disse: “Serão as minhas testemunhas… até os últimos
confins da terra” (Atos 1, 8), e somos. Esta é a era do Espírito de Jesus, que
disse: “Serão batizados com o Espírito Santo” (Atos 1,5), e fomos. Quando Jesus
falou aos apóstolos por vez última, não voltaram a vê-lo com os olhos do corpo,
mas começaram a sentir a presença com os olhos da fé e pensaram: realmente
subiu ao céu e está sentado à direita do Pai. Isto é a Ascensão.
Não, a vida não acaba aqui. Depois da nossa paixão e morte, virá
a ressurreição e a ascensão. Como com Jesus. Ascendemos para adentrar em Deus,
encontrarmo-nos com Ele e desfrutar da sua amorosa presença. E Ele está nos
esperando. E Cristo, já nos preparou uma morada. Neste dia se acabam as
saudades e as penas, pois chegamos ao nosso céu natal. Ali tudo é alegria e
júbilo e amor. Mas com Deus e os amigos de Deus.
Para refletir: Quantas vezes penso diariamente no céu? Do
que é que eu gosto mais do céu? O que faço para poder chegar um dia a esse céu
que Cristo nos abriu com a sua Ascensão? A certeza do céu faz para mim mais
suportável o sofrimento e a cruz na minha vida? O que faço para levar todos os
meus seres querido ao céu?
Para rezar: rezemos com Frei Luis de Leon no seu Ode na
Ascensão:
E deixais, Pastor santo,
A vossa grei neste vale fundo, escuro,
Com solidão e pranto;
Ar, vos dirigis ao imortal seguro? …
Que olharão os olhos
Que viram do vosso rosto a formosura,
Que não se converta em raiva?
Quem ouviu vosso doçura,
O que não terá por surdo e desventura? …
Doce Senhor e amigo,
Doce padre e irmão, doce esposo,
Detrás de Vós eu sigo:
Ou posto em tenebroso
Ou posto em lugar claro e glorioso.
Comentário sobre a liturgia do Pe. Antonio Rivero, L.C.,
Doutor em Teologia Espiritual, diretor espiritual e professor de Humanidades
Clássicas no Centro de Noviciado e de Humanidades da Legião de Cristo em
Monterrey (México).
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