MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA O DIA DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS
Queridos irmãos e irmãs!
O Ano Santo da Misericórdia
convida-nos a refletir sobre a relação entre a comunicação e a misericórdia.
Com efeito a Igreja unida a Cristo, encarnação viva de Deus Misericordioso, é
chamada a viver a misericórdia como traço característico de todo o seu ser e
agir. Aquilo que dizemos e o modo como o dizemos, cada palavra e cada gesto
deveria poder expressar a compaixão, a ternura e o perdão de Deus para todos. O
amor, por sua natureza, é comunicação: leva a abrir-se, não se isolando. E, se
o nosso coração e os nossos gestos forem animados pela caridade, pelo amor
divino, a nossa comunicação será portadora da força de Deus.
Como filhos de Deus, somos
chamados a comunicar com todos, sem exclusão. Particularmente próprio da
linguagem e das ações da Igreja é transmitir misericórdia, para tocar o
coração das pessoas e sustentá-las no caminho rumo à plenitude daquela vida que
Jesus Cristo, enviado pelo Pai, veio trazer a todos. Trata-se de acolher em nós
mesmos e irradiar ao nosso redor o calor materno da Igreja, para que Jesus seja
conhecido e amado; aquele calor que dá substância às palavras da fé e acende,
na pregação e no testemunho, a «centelha» que os vivifica.
A comunicação tem o poder de
criar pontes, favorecer o encontro e a inclusão, enriquecendo assim a
sociedade. Como é bom ver pessoas esforçando-se por escolher cuidadosamente
palavras e gestos para superar as incompreensões, curar a memória ferida e
construir paz e harmonia. As palavras podem construir pontes entre as pessoas,
as famílias, os grupos sociais, os povos. E isto acontece tanto no ambiente
físico como no digital. Assim, palavras e acções hão-de ser tais que nos ajudem
a sair dos círculos viciosos de condenações e vinganças que mantêm prisioneiros
os indivíduos e as nações, expressando-se através de mensagens de ódio. Ao
contrário, a palavra do cristão visa fazer crescer a comunhão e, mesmo quando
deve com firmeza condenar o mal, procura não romper jamais o relacionamento e a
comunicação.
Por isso, queria convidar todas
as pessoas de boa vontade a redescobrirem o poder que a misericórdia tem de
curar as relações dilaceradas e restaurar a paz e a harmonia entre as famílias
e nas comunidades. Todos nós sabemos como velhas feridas e prolongados
ressentimentos podem aprisionar as pessoas, impedindo-as de comunicar e
reconciliar-se. E isto aplica-se também às relações entre os povos. Em todos
estes casos, a misericórdia é capaz de implementar um novo modo de falar e
dialogar, como se exprimiu muito eloquentemente Shakespeare: «A misericórdia
não é uma obrigação. Desce do céu como o refrigério da chuva sobre a terra. É
uma dupla bênção: abençoa quem a dá e quem a recebe» (O mercador de Veneza,
Acto IV, Cena I).
É desejável que também a
linguagem da política e da diplomacia se deixe inspirar pela misericórdia, que
nunca dá nada por perdido. Faço apelo sobretudo àqueles que têm
responsabilidades institucionais, políticas e de formação da opinião pública,
para que estejam sempre vigilantes sobre o modo como se exprimem a respeito de
quem pensa ou age de forma diferente e ainda de quem possa ter errado. É fácil
ceder à tentação de explorar tais situações e, assim, alimentar as chamas da
desconfiança, do medo, do ódio. Pelo contrário, é preciso coragem para orientar
as pessoas em direcção a processos de reconciliação, mas é precisamente tal
audácia positiva e criativa que oferece verdadeiras soluções para conflitos
antigos e a oportunidade de realizar uma paz duradoura. «Felizes os
misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. (…) Felizes os pacificadores,
porque serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 7.9).
Como gostaria que o nosso modo de
comunicar e também o nosso serviço de pastores na Igreja nunca expressassem o
orgulho soberbo do triunfo sobre um inimigo, nem humilhassem aqueles que a
mentalidade do mundo considera perdedores e descartáveis! A misericórdia pode
ajudar a mitigar as adversidades da vida e dar calor a quantos têm conhecido
apenas a frieza do julgamento. Seja o estilo da nossa comunicação capaz de
superar a lógica que separa nitidamente os pecadores dos justos. Podemos e
devemos julgar situações de pecado – violência, corrupção, exploração, etc. –,
mas não podemos julgar as pessoas, porque só Deus pode ler profundamente no
coração delas. É nosso dever admoestar quem erra, denunciando a maldade e a
injustiça de certos comportamentos, a fim de libertar as vítimas e levantar
quem caiu. O Evangelho de João lembra-nos que «a verdade [nos] tornará livres»
(Jo 8, 32). Em última análise, esta verdade é o próprio Cristo, cuja
misericórdia repassada de mansidão constitui a medida do nosso modo de anunciar
a verdade e condenar a injustiça. É nosso dever principal afirmar a verdade com
amor (cf. Ef 4, 15). Só palavras pronunciadas com amor e acompanhadas por
mansidão e misericórdia tocam os nossos corações de pecadores. Palavras e
gestos duros ou moralistas correm o risco de alienar ainda mais aqueles que
queríamos levar à conversão e à liberdade, reforçando o seu sentido de negação
e defesa.
Alguns pensam que uma visão da
sociedade enraizada na misericórdia seja injustificadamente idealista ou
excessivamente indulgente. Mas tentemos voltar com o pensamento às nossas primeiras
experiências de relação no seio da família. Os pais amavam-nos e apreciavam-nos
mais pelo que somos do que pelas nossas capacidades e os nossos sucessos.
Naturalmente os pais querem o melhor para os seus filhos, mas o seu amor nunca
esteve condicionado à obtenção dos objectivos. A casa paterna é o lugar onde
sempre és bem-vindo (cf. Lc 15, 11-32). Gostaria de encorajar a todos a pensar
a sociedade humana não como um espaço onde estranhos competem e procuram
prevalecer, mas antes como uma casa ou uma família onde a porta está sempre
aberta e se procura aceitar uns aos outros.
Para isso é fundamental escutar.
Comunicar significa partilhar, e a partilha exige a escuta, o acolhimento.
Escutar é muito mais do que ouvir. Ouvir diz respeito ao âmbito da informação;
escutar, ao invés, refere-se ao âmbito da comunicação e requer a proximidade. A
escuta permite-nos assumir a atitude justa, saindo da tranquila condição de
espectadores, usuários, consumidores. Escutar significa também ser capaz de
compartilhar questões e dúvidas, caminhar lado a lado, libertar-se de qualquer
presunção de omnipotência e colocar, humildemente, as próprias capacidades e
dons ao serviço do bem comum.
Escutar nunca é fácil. Às vezes é
mais cómodo fingir-se de surdo. Escutar significa prestar atenção, ter desejo
de compreender, dar valor, respeitar, guardar a palavra alheia. Na escuta,
consuma-se uma espécie de martírio, um sacrifício de nós mesmos em que se
renova o gesto sacro realizado por Moisés diante da sarça-ardente: descalçar as
sandálias na «terra santa» do encontro com o outro que me fala (cf. Ex 3, 5).
Saber escutar é uma graça imensa, é um dom que é preciso implorar e depois
exercitar-se a praticá-lo.
Também e-mails, sms, redes
sociais, chat podem ser formas de comunicação plenamente humanas. Não é a
tecnologia que determina se a comunicação é autêntica ou não, mas o coração do
homem e a sua capacidade de fazer bom uso dos meios ao seu dispor. As redes
sociais são capazes de favorecer as relações e promover o bem da sociedade, mas
podem também levar a uma maior polarização e divisão entre as pessoas e os
grupos.
O ambiente digital é uma praça, um lugar de encontro, onde é possível
acariciar ou ferir, realizar uma discussão proveitosa ou um linchamento moral.
Rezo para que o Ano Jubilar, vivido na misericórdia, «nos torne
mais abertos ao diálogo, para melhor nos conhecermos e compreendermos;
elimine todas as formas de fechamento e desprezo e expulse todas as formas de
violência e discriminação» (Misericordiae
Vultus, 23). Em rede, também se constrói uma verdadeira cidadania. O acesso
às redes digitais implica uma responsabilidade pelo outro, que não vemos mas é
real, tem a sua dignidade que deve ser respeitada. A rede pode ser bem
utilizada para fazer crescer uma sociedade sadia e aberta à partilha.
A comunicação, os seus lugares e
os seus instrumentos permitiram um alargamento de horizontes para muitas pessoas.
Isto é um dom de Deus, e também uma grande responsabilidade. Gosto de definir
este poder da comunicação como «proximidade». O encontro entre a comunicação e
a misericórdia é fecundo na medida em que gerar uma proximidade que cuida,
conforta, cura, acompanha e faz festa. Num mundo dividido, fragmentado,
polarizado, comunicar com misericórdia significa contribuir para a boa, livre e
solidária proximidade entre os filhos de Deus e irmãos em humanidade.
Vaticano, 24 de Janeiro de 2016.
Franciscus
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