A JESUS MISERICORDIOSO
No seu significado original, devoção quer dizer “dedicação”.
No culto da misericórdia a palavra assume preferencialmente este sentido. Se
tratasse apenas de “práticas devotas”, arriscaríamos nos encontrar com a figueira do Evangelho (Marcos), 11,21), luxuriante de folhas e sem frutos.
Não é, por isso, uma das tantas “devoções”: é antes de tudo
aquela total dedicação que representa a síntese moral e ascética de todo o
cristianismo. A tal dedicação fomos “consagrados” no dia do batismo. Uma
devoção particular, neste sentido, servirá a despertar em cada um de nós a
consciência da devoção à Deus e ao próximo.
Essas observações são feitas antes de penetrarmos no
conhecimento da mensagem confiada pela misericórdia de Deus à irmã Faustina. As
suas “visões”, as suas “revelações” são sempre privadas, mas o conteúdo nos põe
de fronte à mensagem cristã como tal, de modo que somos obrigados a cada passo
a nos confrontar com a mesma.
A imagem sacra — “Jesus, eu confio em vós”
A missão da irmã Faustina Kowalska iniciou-se em 1931,
quando o misericordioso Salvador lhe apareceu em característica visão. Ela vira
de fato Jesus envolto em uma túnica branca. Tinha a mão direita alçada no ato
de abençoar enquanto a esquerda pousava no peito, onde a túnica levemente aberta deixava sair dois grandes
raios, um vermelho e outro pálido. A irmã fixou em silêncio o olhar surpreso no
Senhor: a sua alma, de início espantada, sentia progressivamente exultante
felicidade. Disse-lhe Jesus: Pinta uma imagem de acordo com o modelo que vês
com a inscrição embaixo:
Jesus, eu confio em vós! Desejo que esta imagem seja
venerada primeiro na vossa capela, e depois no mundo inteiro.
Prometo que a alma que venerar esta imagem não perecerá. Prometo
também a vitória sobre os inimigos já nesta terra mas especialmente na hora da
morte.
Eu mesmo a defenderei como a minha própria glória.
Depois, Jesus completa suas próprias explicações. Digna de
atenção é esta:
Ofereço aos homens um recipiente com o qual deverá vir
buscar graças na fonte da misericórdia. O recipiente é esta própria imagem com
a inscrição: Jesus, eu confio em vós! (n. 327)
A pedido do seu diretor espiritual, irmã Faustina perguntou
ao Senhor qual era o significado dos dois raios que tanto se destacavam na
imagem. Eis a resposta:
Os dois raios representam o sangue e a água. O raio pálido
representa a água que justifica as almas, o vermelho representa o sangue, vida
das almas. Ambos os raios saíram das entranhas da minha misericórdia quando na
cruz, o meu coração agonizante na morte foi aberto com a lança.
Estes raios defendem as almas da ira do meu Pai. Feliz
aquele que viver sob a proteção deles, porque não será atingido pelo braço da
justiça de Deus. ( 299)
Em outras ocasiões, Jesus voltou a falar sobre a imagem.
Resumimos aqui algumas de suas palavras a este respeito:
O meu olhar naquela imagem é igual ao meu olhar na cruz. (n.
326)
Mediante esta imagem concederei muitas graças às almas; ela
deve recordar as exigências da minha misericórdia, pois que a fé, mesmo se
fortíssima, nada adiantará sem as obras. (n. 742)
Os quadros dedicados à divina misericórdia na pessoa do
Salvador são hoje numerosos, mas nem todos são igualmente bem realizados;
alguns são decididamente feios. A este propósito, porém, a Irmã Faustina já
tivera a garantia de Jesus:
Não na beleza da côr, nem na habilidade do artista, mas na
minha graça está o valor desta imagem. (n. 313)
A imagem de Jesus Misericordioso deve desempenhar na devoção
um duplo papel. Em primeiro lugar, ela é, — para nosso Senhor — o instrumento
pelo qual distribui as graças; não é a imagem que dá as graças, mas Jesus
através de imagem; a imagem não tem nenhum poder autônomo- Para as pessoas, no
entanto, essa imagem deve servir como vaso para haurir as graças da fonte da
Misericórdia.
Em segundo lugar, a imagem é, por expressa vontade de Jesus,
o sinal que deve lembrar a exigência de Cristo de praticar a misericórdia. Visto
que esse segundo papel da imagem infelizmente muitas vezes é esquecido, e a
simples veneração da imagem sem atos de misericórdia não é a devoção que Cristo
desejava, os devotos da Misericórdia devem atender à exigência de Cristo de não
deixarem passar nenhum dia sem ao menos um ato de misericórdia: pela ação, pela
palavra ou pela oração.
Desse segundo papel da imagem decorre uma conclusão prática,
evidente e muito importante: Jesus espera e exige que a oração confiante à
Misericórdia diante dessa imagem esteja ligada com um exame de consciência de
como cumprimos as exigências de Cristo de realizar ao menos um ato de
misericórdia por dia.
A FESTA DA MISERICÓRDIA DIVINA.
O diário de irmã Faustina contém pelo menos quinze ocasiões
nas quais se refere ao pedido do Senhor para que seja estabelecido em toda a
igreja, oficialmente, a “Festa da Misericórdia”. Ele declara:
Desejo que a Festa da Misericórdia seja um refúgio e abrigo
para todas as almas especialmente para os pobres pecadores. Nesse dia estão
abertas as entranhas da minha misericórdia, derramo todo um mar de graças nas
almas que se aproximarem da fonte da minha misericórdia; a alma que se
confessar e comungar alcançará o perdão total das culpas e castigos; nesse dia
estão abertas todas as comportas Divinas, pelas quais fluem as graças; que
nenhuma alma tenha medo de se aproximar de mim, ainda que seus pecados sejam
como o escarlate. A minha misericórdia é tão grande que por toda a eternidade
não a aprofundará nenhuma mente, nem humana, nem angélica. Tudo que existe saiu
das entranhas da minha misericórdia. Toda alma refletirá em relação a mim, por
toda a eternidade, todo o meu Amor e Minha Misericórdia desejo que seja
celebrada solenemente no primeiro domingo da Páscoa.
A humanidade não terá paz
enquanto não se voltar à fonte da minha misericórdia (n.699).
Entre todas as manifestações exteriores da devoção, a Festa
da Misericórdia ocupa o primeiro lugar: Já na revelação inaugural Nosso Senhor
deu a conhecer a sua vontade de que essa festa fosse estabelecida. Dedicou a
ela 15 revelações. Exige de Irmã Faustina que essa festa seja precedida de uma
novena de Terço à Misericórdia, e até ditou-lhe pessoalmente uma belíssima
novena, destinada, no entanto, sobretudo para o seu uso próprio. Deu a essa
festa tamanha importância que na revelação 43 disse: “O Meu Coração se alegra
com essa festa”.
A festa da Misericórdia deve ser comemorada no primeiro
domingo depois da Páscoa. A escolha desse domingo, bem como o desejo expresso
de Jesus de que nesse dia os sacerdotes façam sermões sobre a Misericórdia
Divina sobretudo a respeito daquela que Deus nos concede por Cristo, indica que
Jesus vê uma relação estreita entre o mistério pascal da nossa redenção e essa
festa: ela é destinada para que reflitamos nesse dia sobre o mistério da
Redenção como a maior manifestação da Misericórdia Divina diante de nós. Essa
relação entre a Festa da Misericórdia e o mistério da Redenção foi também
percebida por Irmã Faustina, quando escrevia em 1985:
“Agora vejo que a obra da Redenção está ligada com a obra da
Misericórdia, que o Senhor está exigindo”.
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