A diocese de Santo Ângelo neste Domingo realiza sua
81º Romaria ao Santuário de Caaró onde foi martirizado os padres Roque, Afonso e João.
Partilhamos um pequeno histórico destes santos missioneiros e uma carta de
Padre Roque Gonzáles descrevendo a realidade daquela época e sua ação
missionário entre os índios.
Roque Gonzátez de Santa Cruz nasceu em 1576 na cidade
Assunção (Paraguai). Era já sacerdote quando entrou na Companhia de Jesus em
1609, e durante quase vinte anos procurou
civilizar os índios que habitavam nas florestas daquelas regiões
agrupando-os nas “Reduções”e instruindo-os na fé e nos costumes cristãos. Foi
morto traiçoeiramente pela fé, a 15 de novembro 1628, juntamente com Afonso
Rodríguez, espanhol. Dois dias mais tarde, em outra “Redução”, sofreu cruel
martírio João Castilio, também espanhol, que tinha sido ardente defensor índios
contra os seus opressores. Estes três sacerdotes Jesuítas martirizados na
região do Rio da Prata, foram canonizados x Papa João Paulo II em 1988.
Das Cartas de São Roque González
Voltando pouco depois para lá encontrei um local onde podia
ficar: uma pequena choupana perto do rio; e, passado algum tempo, ofereceram-me
uma palhoça maior. Dois meses mais tarde, o Padre Reitor enviou o Padre Diogo
de Boroa. Este chegou finalmente na segunda -feira de Pentecostes. Com muita
consolação considerávamos como o amor de Deus nos juntava naquelas terras tão
longínquas. Dividimos entre nós o limitado espaço da nossa morada, com um
tabique feito de canas. Ao lado tínhamos uma capela, pouco maior que o próprio
altar em que celebrávamos a Missa. Por eficácia deste supremo e divino
sacrifício, cm que Cristo se ofereceu ao Pai na Cruz, começou ele a triunfar
ali, pois os demônios que antes costumava aparecer a estes índios não se
atreveram a aparecer mais, como testemunhou algum deles. Resolvemos continuar
na mesma palhoça, embora tudo nos faltasse, O frio era tanto que nos custava
adormecer O alimento também não era melhor: milho ou farinha de mandioca, que é
a comida dos índios; e porque começamos a buscar pelos bosques umas ervas de
que se alimentam os papagaios, com este apelido nos chamavam.
Prosseguindo as coisas deste modo, e temendo os demônios
que, se a Companhia de Jesus entrasse nestas regiões, eles perderiam em breve o
que por tanto tempo tinham possuído, começaram a espalhar por todo o Paraná que
nós éramos espiões e falsos sacerdotes, e que trazíamos a morte em nossos livros e imagens.
Divulgou-se isto a tal ponto que, estando o Padre Boroa a explicar aos índios
os mistérios da nossa fé, eles temiam aproximar-se das sagradas imagens, com
receio de algum contágio mortífero. Mas estas ideias foram-se desfazendo pouco
a pouco, sobretudo quando viram com os próprios olhos que os nossos eram para
eles como verdadeiros pais, dando-lhes de bom grado quanto tinham em casa e
assistindo-os nos seus trabalhos e enfermidades, de dia e de noite,
auxiliando-os não só em proveito das suas almas, o que é certamente mais
importante, mas também dos seus corpos.
E assim, quando vimos consolidar-se o amor dos índios para
conosco, pensamos em construir uma igreja, que, embora pequena e modesta e
coberta com palha, apareceu a esta gente miserável como um palácio real, e
ficam atônitos quando levantam os olhos para o teto. Ambos tivemos de trabalhar
com barro para fazer o reboco e para ensinar os indígenas a fazer tijolos.
Deste modo conseguimos ter igreja pronta para o dia de Santo Inácio do ano
passado de 1615. Neste dia celebramos lá a primeira missa e renovamos os nossos
votos. Houve ainda outros ritos festivos, quanto era possível segundo a pobreza
do lugar. Também quisemos organizar umas danças, mas estes rapazes são tão
rudes que não conseguiram aprendê-las. Levantamos depois uma torro de madeira e
pusemos nela um sino que a todos encheu de admiração, pois nunca tinham visto
nem ouvido semelhante coisa. Também foi ocasião de grande devoção uma cruz que
os próprios indígenas levantaram: tendo-lhes nós explicado por que razão os
cristãos adoram a cruz, eles se ajoelharam conosco para adorá-la. Desconhecida
até agora nestas terras espero em nosso Senhor que esta cruz seja o princípio
para se levantarem muitas outras.
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