Ressuscitados, somos enviados para transfigurar o mundo!
Nós nunca vimos Jesus, mas isso não nos impede
de segui-lo, amá-lo e testemunhá-lo. Aprendemos pouco a pouco que a fé nos faz renascer
para uma esperança viva e nos ajuda a ver com novo olhar e agir com novo vigor.
Ver e tocar não são condições indispensáveis para crer. Imprescindível é o
vínculo vivo com uma comunidade de irmãos e irmãs. É na comunhão com homens e
mulheres concretos que podemos estender a mão e tocar as chagas do Senhor crucificado
e ressuscitado, prostrarmo-nos em humilde adoração e prosseguir a missão de
Jesus Cristo.
Como não se impressionar com a experiência
pascal dos discípulos de Jesus? Doía-lhes na consciência a traição, a negação,
a deserção e o abandono de Jesus no caminho da cruz. A esta dor acrescentava-se
o medo de que a perseguição violenta por parte das autoridades judaicas e
romanas se voltasse também contra eles. Com medo, eles se reuniam a portas
fechadas. Mas, ao se manifestar a eles, a primeira palavra de Jesus é de
acolhida e pacificação, e não de cobrança: “A paz esteja com vocês!” Jesus lhes
mostra as feridas nas mãos e no lado esquerdo, sem lamentar ou acusar pelo
abandono sofrido.
Tomé não está reunido com os demais discípulos
quando Jesus ressuscitado vai ao encontro deles. Os outros dez discípulos lhe
anunciam “nós vimos o Senhor”, e sua reação não esconde a frustração
transformada em desconfiança e ceticismo: “Se eu não vir a marca dos pregos nas
mãos dele, se eu não colocar o meu dedo na marca dos pregos, e se eu não
colocar a minha mão no lado dele, eu não acreditarei.” Falta-lhe o sentido de
pertença à comunidade. O abandono do caminho de Jesus leva-o ao isolamento, e
esta separação da comunidade impede a continuidade da missão.
Tomé reata os laços com os condiscípulos e,
assim, seus olhos se abrem. Nos corpos concretos e feridos dos irmãos e irmãs,
Tomé recorda o projeto de Jesus Cristo, “toca” suas feridas e acredita nele.
São felizes aqueles que alcançam a fé sem ver, apenas vendo e tocando
indiretamente o Senhor que está no meio de nós. Como comunidade apostólica,
damo-nos conta de que podemos ficar de tal modo envolvidos pela ideia de um
Cristo exaltado e pela possibilidade da nossa ressurreição depois da morte que
corremos o risco de esquecer que o mundo ainda não foi totalmente
transfigurado...
Por isso, Jesus Cristo claramente confere uma
missão aos discípulos: continuar seu próprio trabalho de tirar o pecado do
mundo. “Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês”. É como se ele nos
confiasse a tarefa de lixeiros, de passar pelas ruas recolhendo os males que o
egoísmo gera e sustenta. Isso é o que significa ser o “Cordeiro de Deus, aquele
que tira o pecado do mundo”. Este pecado tem muitos nomes e se manifesta nas
diversas formas de dominação, de exploração, de discriminação, ou também na
indiferença diante das vítimas destas ações. É a isso que, na sua carta, Pedro
identifica como herança que não se corrompe!
E esta herança e missão urgem, não podem ser
postergadas para amanhã, para quando tivermos mais tempo. Não pode também ser
terceirizada ou enviada à responsabilidade dos outros. O pecado que não
tirarmos do mundo permanecerá aqui, diminuindo e ferindo a vida de muita gente.
A comunidade que se reúne para continuar a memória de Jesus crucificado e
ressuscitado, depois de receber o Espírito Santo, teve coragem para inovar e
forças para perseverar no ensinamento dos apóstolos, na união fraterna em torno
de Jesus Cristo; na partilha do pão, na oração e na liturgia. Eis nosso
caminho!
É a nós que Jesus se dirige hoje, convidando a
tocar seu corpo. Nesta celebração, seu corpo está ao nosso alcance na
eucaristia, mas também no corpo eclesial, nos irmãos e irmãs que estão ao nosso
lado no templo e do lado de fora da igreja. Saudemos, abracemos sirvamos estes
irmãos e irmãs, membros vivos do corpo de Cristo. Com eles, vivamos em paz e
sejamos portadores de paz. E mais ainda: busquemos no pão pascal a força para
perseverar na tarefa impostergável de tirar o pecado do mundo, começando pelos
pecados que ferem e maculam a própria Igreja. Pedro diz que somos guardados
para a salvação...
Deus, Pai e Mãe da vida: celebrando a memória
de teu filho e nosso irmão Jesus de Nazaré, te agradecemos pelo dom da fé: é
graças a ela que cremos e caminhamos, mesmo sem ter tocado as feridas de Jesus.
E te pedimos que este tempo de passagem nos faça renascer para uma esperança
viva e vivificadora, para uma herança que não murcha. Faz com que sejamos
membros da família de Jesus Cristo a partícipes da sua missão de tirar o pecado
do mundo, de testemunhar o Evangelho da alegria e do serviço e fazer da
humanidade uma só família. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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