Ainda celebrando a Beata Elisabete da Trindade que tem muito
a nos dizer partilhamos uma carta que escreveu a uma amiga Francisca de
Sourdon. Nesta carta deseja ensinar-lhe
o segredo da felicidade: fixar o olhar em Deus. Exorta-a a construir para si
uma cela interior e nela refugiar-se com simplicidade na oração.
Sim, minha querida, rezo por você e guardo-a em minha alma,
junto ao Senhor, nesse pequeno e íntimo santuário onde o encontro todas as hora
do dia e da noite. Nunca estou sozinha. Meu Cristo está sempre ali, sempre
orando em mim, e eu me uno à oração dele.
Minha Francisca, você
me causa dó porque vejo perfeitamente que você se sente infeliz, mas lhe
garanto que é somente por culpa minha. Tranquilize-se, pois ainda não a julgo
maluca, porém apenas com os nervos abalados e hipersensíveis; e quando você
passa por essas crises, acaba fazendo seus familiares sofrerem. Oh! Quanto
gostaria de ensinar-lhe o segredo da felicidade como o Senhor o ensinou a mim!
Você diz que não tenho preocupações nem sofrimentos; e na verdade sou muito
feliz, como nunca o fui assim. Oxalá, porém, você soubesse como podemos ser
completamente felizes, mesmo estando no meio das contrariedades! Precisamos
manter o olhar sempre fixo no Senhor. No começo, quando sentimos que tudo se
amotina em nosso interior, precisamos esforçar-nos; mas, com a prática da
paciência e com a ajuda de Deus, acabamos superando tudo.
Você precisa
construir dentro de sua alma uma pequena cela. E pense que o Senhor está ali
dentro; e de vez em quando entrará nela. Quando estiver nervosa ou a melancolia
invadir a sua alma, recolha-se rapidamente neste refúgio e desabafe tudo com o
Divino Mestre. Ah! Se você o conhecesse ao menos um pouco, a oração não a
enfastiaria mais. Na realidade, é um descanso, um repouso. É aproximar-se com
toda a simplicidade daquele que se ama. É permanecer junto a ele como um
filhinho nos braços de sua mãe, num abandono do coração… Em outros tempos, como
você gostava de sentar-se ao meu lado e desafogar-me suas confidências! É
exatamente assim que devemos procurá-lo. Se você soubesse como ele é
compreensivo, não sofreria mais.
Este é o segredo da vida do Carmelo. A vida do
Carmelo é uma comunhão com Deus desde a manhã até a noite e da noite até a
manhã. Como tudo seria vazio, se ele não enchesse as nossas celas e os nossos
claustros! Mas nós o vemos em todas as coisas porque o carregamos dentro de
nós, e nossa vida se transforma num céu antecipado.
Peço ao bom Deus que
lhe ensine todos estes segredos e tenha-a sempre aqui dentro da minha humilde
cela; faça você o mesmo comigo na sua, que desta maneira jamais nos separamos.
Minha querida
Francisca, quero-lhe muito bem, desejo que você seja muito boa e que permaneça
na paz dos filhos de Deus.
Sua Elisabete da
Trindade.
Carta
extraída na íntegra do livro : Obras Completas de Elizabete da Trindade. Editora Vozes
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