Missões sem fronteiras
Nos meses de agosto e setembro,
meses de verão, de descanso e de reflexão nas latitudes ocidentais, porém
também de encontros missionários e de incessante atividade evangelizadora em
outras latitudes, convergem quatro intenções missionárias de fundo social,
religioso e evangelizador, que mostram uma preocupação pelo voluntariado, os jovens, as
periferias existenciais, os catequistas. Cada uma destas intenções
encerra um amplo conteúdo e se abre a horizontes universais. São os novos
horizontes aos quais o papa Francisco quer abrir a atividade missionária da
Igreja.
Enumeramo-las: Agosto: 1) “Para que os que colaboram no campo do voluntariado se entreguem
com generosidade ao serviço dos necessitados”. 2) “Para que, saindo de nós
mesmos, saibamos fazer-nos próximos daqueles que se encontram nas periferias
das relações humanas e sociais”. Setembro:
3)“Para que cresçam as oportunidades de formação e de trabalho para todos
os jovens”. 4) “Para que a vida toda dos catequistas seja um testemunho
coerente da fé que anunciam”.
O voluntariado
O voluntariado é uma das forças
mais vivas de evangelização com que conta hoje a Igreja. Dá-se em todos os
âmbitos, desde a saúde, a assistência social, ao compromisso diretamente
missionário. São muitos os que dão gratuitamente seu tempo aos mais
necessitados, aportam meios profissionais, inclusive econômicos e muita ilusão.
E são também muitos os que ofereceram suas vidas no altar de uma luta arriscada
para combater as grandes bolsas de pobreza e de analfabetismo, em um serviço
generoso que quer mudar a sociedade.
O voluntariado ultrapassa as
fronteiras da Igreja. Muitos nem sequer são crentes. Porém conduz-lhes um
profundo sentido de solidariedade, que tem suas raízes no humanismo cristão. É
um serviço desinteressado aos mais necessitados, que dignifica a humanidade
inteira e que tem pontes entre a Igreja e o extenso mundo da evangelização. A
missão da Igreja não tem fronteiras, abre-se ao mundo inteiro.
As periferias existenciais
A evangelização das periferias
existenciais é a ideia central de todos os discursos do papa Francisco sobre a
missão da Igreja. Já em seu discurso aos cardeais no pré-conclave de 9 de março
de 2013, Bergoglio afirmava: “Evangelizar supõe na Igreja a ousadia de sair de
si mesma. A Igreja está chamada a sair de si mesma e ir até as periferias, não
só as geográficas, senão também às periferias existenciais: às do mistério do
pecado, às da dor, às da injustiça, às da ignorância e marginalização, às do
pensamento, às de toda miséria”.
Aquele discurso delineava como
antecipação o programa de seu futuro pontificado. O cristianismo deve
dirigir-se sobretudo aos pecadores, aos afastados, ao filho pródigo. Os que
estão longe do ‘centro’, que não é a Igreja como instituição, mas Cristo. As
‘periferias existenciais’ são formadas por aqueles que, pobres social e
espiritualmente, vêem-se privados do amor de Deus e dos homens. Daí a
importância de sair para ir ao encontro do outro, às periferias, que são
lugares, porém são sobretudo pessoas em situações de vida especial. Estas são
as verdadeiras periferias existenciais, onde não está Deus, as quais a Igreja
missionária tem de acudir.
Os jovens
Tanto o voluntariado como a saída
às periferias existenciais, por suas mesmas características de solidariedade e
de compromisso missionário, tem cada dia maior arraigo entre os jovens. São
jovens que cultivam os valores morais, cristãos e evangélicos, dos quais está
tão necessitada nossa sociedade atual. Eles mesmos são conscientes deste déficit
moral, que se traduz na profunda crise do trabalho de nossa sociedade. E sentem
a falta de trabalho como uma perda de sua dignidade humana.
Por isso a intenção missionária enfatiza
a necessidade de um trabalho e de uma formação para os jovens. Eles são a força
viva de nossa sociedade. De novo o papa Francisco denuncia a precariedade da
situação do trabalho como uma cicatriz de nosso sistema econômico. “É
necessário reafirmar que o trabalho é uma realidade essencial para a sociedade,
para as famílias e para os indivíduos, e que seu principal valor é o bem da
pessoa humana, uma vez que a realiza como tal, com suas atitudes e suas
capacidades intelectuais, criativas e manuais... O trabalho não tem somente um
fim econômico e de benefícios, senão antes de tudo um fim que garante ao homem
sua dignidade! E se não há trabalho essa dignidade está ferida! Qualquer pessoa
sem emprego ou subempregada corre, de fato, o perigo de que a coloquem a margem
da sociedade e de converter-se assim em uma vítima da exclusão social”
(20.03.14).
A última intenção missionária é
um chamado aos catequistas para que deem testemunho de sua fé, como meio para
transmiti-la. Não se trata tanto de ensinar uma doutrina, como de viver uma fé.
A prática da catequese oscila frequentemente entre dois modelos que não são de
todo adequados: o modelo doutrinal e o modelo experiencial. Para um delineamento
mais equilibrado haveria de ter presentes dois critérios: a primazia da
vivência sobre o ensinamento e a primazia do testemunho sobre a doutrina.
“Ensinai a rezar, rezando; anunciai a fé, crendo; dai testemunho com a vida”
(29.06.15).
Fr. Ciro Garcia, OCD
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