Neste dia em que celebramos o Dia do Gaúcho nada melhor que deixar falar aquele que muito amou a tradição e o Rio Grande o Padre Paulo Aripe que nos brinda com uma linda poesia.
PORQUE RESOLVI SER
PADRE
Por que será
que um rapaz,
Bem na flor
da mocidade,
Resolve
estudar pra padre
Perdendo sua
liberdade
E tantos
outros prazeres
Que o mundo
tem à vontade?
Por que
escolher a batina
E não outra
profissão?...
Com tanta
prenda bonita,
Pra que
ficar solteirão?...
Quando um
rapaz quer ser padre,
Não será
desilusão?!...
Pois eu vou
dizer porque
Resolvi ser
Sacerdote:
Eu vi que a
tropa de Cristo
Era comprida
e grandote;
Senti que
Deus precisava
Mais um
tropeiro no lote.
Eu vi a
tropa com tome.
— De dia
sempre a viajar,
— De noite
sempre
Nos
manqueirões, sem pastar,
Pois com tão
poucos tropeiros
Era
impossível rondar.
Eu vi nas
encruzilhadas,
A boiada em
escarcéu,
Por falta de
mais tropeiros,
Muita rês
correndo ao léu,
Disparando,
a trote largo,
Do rastro
certo do céu.
Muitas
ficavam pra trás;
Outras, sem
dono na estrada,
Se
misturavam na tropa
Numa
confusão danada,
Por falta de
peão ponteiro
Que
repontasse a boiada.
Vi que os
tropeiros lutavam
Naquela
atucanação
Muitos
Pingos já mancandoDas patas, e foi então,
Que um dos tropeiros me disse:
Não quer nos dar uma mão”?
Vi como é
grande o Rio Grande
Para tão
poucos Vigários...Vi sete POVO5 em ruínas
Pedindo braço operário...
Vi brotar sangue de mártir
Convocando Missionários
Eu vi o
coração do padre
Roque
Gonzales, clamando,Que eu ajudasse a manter
O lampião da fé brilhando
Nos corações rio-grandenses
Por quem morrera sangrando;
Eu quis
fugir do serviço,
Porque essa
tropa cansava.Seria muito mais fácil
Seguir a estrada que andava.
Mas por fim achei um crime
Não ajudar quem lutava.
Foi então
que eu Compreendi,
Que coisa
grande é o amor!Não pensei mais em mim mesmo,
Só na tropa do Senhor,
Deixei pra sempre meu rancho
Pra viver no corredor
Já que o
preço dessa tropa
Foi o Sangue
do CORDEIRO,Deixei o pago e a família.
Larguei prazer e dinheiro
Para apanhar sol e chuva
Tropeando sem paradeiro.
Hoje vivo
satisfeito
Na maior
felicidade,Ajudando a conduzir
A tropa da Cristandade
Para a invernada final
Da Estância da Eternidade.
Tropeio alegre, assobiando,
Lá onde o Bispo quiser;
Já sou potrilho enfrenado;
Encilhem-me o que puder
Não fiquei padre pra mim,
Mas para o que der e vier.
Fonte livro
A Igreja nos Galpões de Padre Palo Aripe.
Viamão, 11 de junho 1962
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