QUARTA FEIRA DE
CINZAS
Síntese da mensagem: a cinza que agora será colocada sobre nós tem que nos lembrar
que somos pouca coisa, que não podemos nos sentir orgulhosos, nem ter ódios,
nem egoísmos… e desta maneira alcançarmos “mediante as práticas quaresmais, o perdão dos
pecados; e alcançarmos, à imagem do vosso Filho ressuscitado, a vida nova do
vosso Reino”.
Pontos da ideia
principal:
Em primeiro lugar, um pouco de história. Nos séculos VIII e IX a imposição da
cinza se una, no contexto litúrgico, à penitência pública. Naquele dia mandavam
os “penitentes” saírem da igreja. E este gesto repetia, de alguma forma, aquele
outro de Deus expulsando Adão e Eva, pecadores, do paraíso… Nesta perspectiva
se colocam as palavras do Gênese que se referem precisamente à este episódio: “Com o suor da
tua frente comerás o pão até voltares à terra, porque dela te tiraram; pois és
pó e ao pó voltarás… E o Senhor Deus o expulsou do jardim do Éden, para lavrar
o chão de onde o tinha tirado” (Gn 2,19s). Só mais tarde a
imposição da cinza tomou um simbolismo distinto: o da fragilidade e brevidade
da vida. A lembrança da morte. A referência à tumba. Parece-me, porém, que é
válido, sobretudo, o significado primitivo, que expressa penitencia, expiação
pelo pecado. “O homem-pó” quer dizer o homem que se afastou de Deus, que
recusou o diálogo, que foi expulso da sua casa, que rejeitou o dinamismo do
amor para caminhar seguindo uma trajetória de desilusão e de morte. “O
homem-pó” é o homem que se opõe a Deus, que dá as costas ao seu próprio ser e
se condena à nada. Mas neste dramático itinerário de afastamento e visitação,
existe a possibilidade do retorno. Retorno à origem. Em vez de se precipitar à
tumba, é possível mudar de direção- eis aqui a conversão! – e voltar à fonte.
“Lembra que és pó e como pó voltarás… a Deus”. Se quiseres. Agora mesmo, neste
exato momento.
Em segundo lugar, e o que Deus espera de nós? Conversão, mudança de vida, voltar
a começar! Torno-me terra e me confio ao Construtor para me refazer totalmente.
Errei. Perdi o caminho da vida. Perdi o reino. Comprometi inclusive os outros
no meu pecado (todo pecado é um pecado “público” com consequências desastrosas
para toda a comunidade eclesial). É justo que eu fique na porta. Mas, ao rodear
a esquina, volto à condição de… pó. Ou seja, de matéria prima. E Ele se
inclinará ainda sobre este pó para dar-lhe um hálito de vida. Assim o meu
“nada” é tocado pela plenitude divina. Da cinza pula uma faísca de vida. E
agora a camada sutil de pó já não pode ocultar o esplendor do rosto de um filho
de Deus. Tudo, pois, começa de novo. Pode ser “novo” se aceitar não o… fim, mas
o princípio. Não o montinho de cinza da tumba. Mas o punhado de terra nas mãos
do Artífice. O pouco de terra disposta para receber o “hálito”. E se converter
assim, de novo, num “vivente”. A consulta, pois, com a cinza é fundamentalmente
a consulta com a Vida. A cinza me recorda o berço, não a tumba!
Finalmente, os meios que Deus põe nas nossas mãos nesta Quaresma para
levar a termo a nossa conversão são os que Jesus nos recomenda no evangelho de
hoje: oração, esmola ou caridade e jejum. Oração: Intensificar os nossos
espaços de oração. Mas sobretudo orar melhor. Jejum: Jejuar das
muitas coisas que diminuem a nossa vida cristã. Esmola: chamamos
também “caridade”: amor. O amor ao irmão, sobretudo ao necessitado, em quem
Cristo se faz mais presente, passa pelo socorro material suficiente e digno,
não mesquinho. Tudo isso se converte então num grande empurrão para avançar,
para caminhar. Jesus, no evangelho, nos falou deste caminho. Disse para nós que
temos que dar do nosso aos que necessitam: disse para nós que temos que orar,
que temos que nos aproximar de Deus com todo o nosso ser; disse que temos que
jejuar, que temos que renunciar tantas coisas (comida, televisão, diversão, ou
que for) para nos dedicar com mais tenacidade ao Evangelho. E nos disse que
temos que fazer tudo isso não para sermos vistos, para que nos parabenizem, mas
pela fé, por amor, por desejo de fidelidade. Neste tempo de Quaresma temos que
viver intensamente este empurrão para avançar. Cada um de nós temos que nos
propor a fazer desta Quaresma um verdadeira passo adiante na vida cristã.
Reconhecendo o próprio pecado, pondo toda a confiança em Deus, esforçando-nos
de verdade no seguimento de Jesus Cristo. Para chegar cheios de gozo à Páscoa.
Para refletir: o chamado continua sendo o mesmo: das de verdade esmola, sim
ou não? E isto quer dizer: compartilhas com os outros e vais compartilhar ainda
mais durante esta quaresma? Rezas ou não rezas, e estás disposto a rezar mais
durante esta quaresma? Aceitarás uma vida mais ascética para sair da comodidade…
e também para poder compartilhar um pouco mais? Não existe nada que nos impeça
de escolher outros esforços, outros progressos; não faltam sugestões para isso
no evangelho. O que deve nos animar e até mesmo nos entusiasmar é que uma
quaresma vivida assim, a sério, pode marcar profundamente a nossa vida.
Escondei o vosso rosto dos meus
pecados, e apagai todas as minhas iniquidades. Criai em mim, ó Deus, um coração
que seja puro, e renovai dentro de mim um espírito decidido. Não me rejeiteis
da vossa presença, e não tirardes de mim o vosso santo Espírito
Fonte (Zenit)
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