Síntese da mensagem: Continuamos no ano da Misericórdia. Sem
dúvida alguma que todos os males que sofremos a nível pessoal, familiar,
social, eclesial, mundial… devem-se aos nossos pecados. Não é que Deus está nos
castigando. Mas os nossos pecados não ficam impunes. Pagamos as consequências
dos nossos extravios. Por isso, urge dar frutos de conversão. Somente se nos
arrependermos, obteremos a misericórdia de Deus (Evangelho) e Ele nos encherá
de frutos de santidade. Quaresma é o tempo da experiência da misericórdia e da
libertação de Deus (1 leitura). Quem crer que está firme, que tome cuidado para
não cair (2 leitura).
Pontos da ideia principal:
Em primeiro lugar, Cristo nesta Quaresma, e durante toda a
nossa vida, chama-nos à conversão e a dar frutos de conversão. Só desse jeito
chegaremos preparados para a Páscoa. Somos figueiras que Ela plantou no jardim
do mundo. Deus nos dotou com a capacidade de fazer o bem, de cultivar a justiça
e de manter umas relações sãs com os demais e com Deus mesmo. Mas como dono e
Senhor dessas figueiras que somos nós, pode exigir de nós e pedir contas. A
conversão leva consigo a renúncia ao pecado e ao estado de vida incompatível
com o ensinamento de Cristo, e a volta sincera a Deus. Não bastaria o nosso
simples propósito de mudar de vida, se não existir dor pelas faltas cometidas.
A conversão não é só fazer penitência, no sentido de realizar umas obras de
jejum e de esmola. A palavra grega para penitência é “metánoia”, que significa
mudança de mentalidade. O que Deus nos pede nesta Quaresma é uma mudança num
nível bastante mais profundo do que no nível das meras obras externas. Uma
conversão, se for autêntica, “faz dano”, porque significa meter o “dedo na
chaga” e corrigir as raízes dos nossos males. Se tiver que “operar”, temos que
estar dispostos a pegar o bisturi e cortar o que for necessário, e não nos
conformar com a aplicação de um pomada suave que não chega às raízes do nosso
mal. E o que temos que cortar sem contemplações são as causas dos nossos
pecados que ofendem a Deus e os nossos irmãos.
Em segundo lugar, Cristo espera frutos concretos de
conversão da nossa figueira (evangelho). Paulo na segunda leitura aos cristãos
de Corinto jogou na cara deles que alguns dos israelitas que fizeram o caminho
com Moisés pelo deserto não agradaram a Deus, nem foram fiéis à Aliança,
deixando-se levar pelas tentações dos povos vizinhos. Procuraram outros deuses
permissivos. Por isso não entraram na terra prometida. Para Paulo isso deveria
servir para nós de escarmento. Não basta com pertencer ao povo de Deus, ou com
dizer umas orações ou levar umas medalhas ou ir de peregrinação a um Santuário.
Algo tem que mudar na nossa vida para que a nossa figueira pessoal dê os frutos
que Deus espera. Temos que ser sinceros e entrar na nossa horta interior e
matar todo bicho ou praga que estiver destruindo a nossa figueira: egoísmo,
indiferenças, protestos, rebeldias interiores, maltrato ao próximo, infidelidade
matrimonial ou sacerdotal, mentiras e trapaças. Se tiver que fumigar com adubo
eficaz a horta, o que estamos esperando? Se tiver que regar com a oração, por
que vamos dando mais tempo ao assunto? Se tiver que podar, peguemos as tesouras
e cortemos sem contemplações. A paciência de Deus pode ter um limite: “corte
essa figueira”.
Finalmente, quantos séculos faz que Deus vem pedindo frutos!
Pensemos naquela Europa cristã, que recebeu a primeira semente da fé por
boca dos mesmos apóstolos, regada com o sangue de inumeráveis mártires,
protegida pelos santos pastores, civilizada pela multidão de monges,
enriquecida com toda classe de dons. Beneficiária, ela também, de um amor de
grande predileção da parte do Senhor. E o que encontra esse Dono? Alguns frutos
bons, bendito seja Deus! Mas quanto fruto mau: ateísmo, agnosticismo,
indiferentismo, relativismo, descenso da fé e fechamento de igrejas e
mosteiros, avanço de outras religiões fanáticas e blasfemas, como disse o Papa
Francisco, que em nome de Deus perpetram atentados desumanos. Onde estão as
virtudes cristãs que fizeram possível a edificação das magnificas catedrais, a
criação das escolas e das universidades, a construção de uma sociedade que
tinha por lei o Evangelho, os tesouros da arte, as obras mestras da literatura
cristã, o governo de príncipes santos: São Fernando III de Castilla, Santa
Margarita da Escócia, São Vladimiro de Kiev, São Luís IX da França, Santa
Matilde de Ringelheim, e tantos outros? Oremos pelos cristãos fiéis que na
velha Europa, mãe da nossa cultura e da nossa fé, continuam combatendo o bom
combate, e peçamos com eles ao dono do campo que conceda àquela bendita terra
“um ano mais”, e a graça de que os seus corações se abram à penitência que dá
frutos de vida eterna.
Para refletir: Nosso Senhor Jesus Cristo é um Rei
misericordioso que perdoará a quem confessar humildemente os seus pecados; não
perdoará a quem se recusar a abandonar-se nas suas mãos bondosas. Abramos as
nossas almas ao presente da sua misericórdia! Só assim poderemos dar frutos de
conversão, de santidade e de vida eterna. Olhemos o nosso coração, quais frutos
estamos dando a nível pessoal, a nível familiar, a nível laboral, a nível
paroquial?
Para rezar: Senhor e Deus nosso, tende paciência de mim,
pois quero dar fruto abundante para maior glória vossa. Não me maldigais, como
maldissestes aquela figueira na que só encontrastes folhas (cf. Mt 21,19). Não
quero que me tireis o vosso Reino, para entregá-lo a um povo que produza frutos
que esperais (cf. Mt 21,43). Que seja consciente, Senhor, que o vosso Pai Deus
será glorificado quando eu der muito fruto e mostre assim que sou o vosso
discípulo (cf. Jo 15,8).
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