O MESSIAS HUMILDE E SERVIDOR É
O CAMINHO DA IGREJA.
Depois de cinco semanas de
preparação, abrem-se as portas de uma semana que vale uma vida. Com ramos,
flores e cânticos, caminhamos pelas ruas e reunimo-nos nos templos, não para
gritar impropérios contra a presidenta ou para pedir a volta da ditadura
militar, mas para aclamar nosso líder manso e humilde. “Bendito aquele que vem
em nome do Senhor!” Sabemos que só alguém infinitamente grande é capaz de
fazer-se tão pequeno e tão próximo. Ele nos oferece generosamente sua vida
desdobrada em serviço, bebe o cálice num só golpe e realiza plenamente a
vontade do Pai. Para entender a entrada de Jesus em Jerusalém precisamos
dispensar as imagens e fantasias de poder. Não há nada de triunfal. Jesus vem
da Galiléia e entra na capital do seu país montado num jumento. Nada de
cortejos de honra, de generais e de cavalos vistosos. Jesus chega a Jerusalém
como sempre foi: um servidor, um simples homem, esvaziado de interesses escusos
e obediente às necessidades dos outros. O povo da periferia da capital o aclama
como filho e herdeiro de Davi, mas isso contrasta com a fria acolhida por parte
do povo da capital e com o medo dos próprios discípulos... A escolha do jumento
é uma provocação aos líderes militares, conhecidos no passado ou esperados para
o futuro. O povo que acompanha Jesus na sua entrada em Jerusalém aclama o
despontar do reino messiânico inspirado em Davi e a chegada do líder enviado
por Deus. Jesus, porém, não realiza as ações poderosas que eles esperavam: chega
ao templo, olha tudo e se retira em Betânia sem fazer nada. Ele é o ouvinte da
Palavra do qual fala o profeta Isaías, e dessa escuta obediente brota uma
palavra que desperta os adormecidos e encoraja os acorrentados pela doença e
pelo medo. O entusiasmo suscitado naquele pequeno grupo de gente que vinha do
interior não se sustentará por
muito tempo. Os gritos de ‘hosana’ – Deus salva agora! – logo serão
substituídos pelo insolente pedido ‘crucifica-o’, fruto da frustração das
esperanças populares e da manipulação interesseira das autoridades. Os próprios
discípulos, que haviam acompanhado Jesus e frequentado suas lições, sentem-se
irremediavelmente desorientados e defraudados em suas expectativas. Mas nem a
divisão que se cria entre os discípulos, nem a real possibilidade da traição,
não fazem Jesus mudar de plano... É verdade que Jesus sente-se abatido e chega
a perguntar-se sobre o rumo que deve seguir. No momento crucial, depois da
festa de acolhida e da ceia de despedida, Jesus enfrenta um discernimento
difícil. Pede aos discípulos que fiquem com ele e vigiem. “Tudo é possível para
ti. Afasta de mim este cálice... ” Essa experiência permanece como um alerta
para os discípulos e discípulas que esperam facilidades. “Vigiem e rezem para
não caírem em tentação.” Para Jesus, oração é o momento de confronto profundo
com a vontade do Pai, com a missão escrita em caracteres confusos e exigentes.
Os discípulos não entendem nada e temem, e Pilatos escolhe o caminho mais
fácil: lavar as mãos, fazer a vontade da maioria e assim receber o apoio
popular que faltava ao seu poder despótico. É o fácil caminho da indiferença
diante da dor dos outros, da rápida incriminação dos lutadores, da alegre
bajulação dos poderosos, da arrogante pretensão de ser o único artífice do
próprio bem-estar. Aquele que o povo simples havia saudado na entrada da cidade
como quem vinha e agia em nome de Deus, permanece fiel e acaba preso,
abandonado pelos próprios discípulos, condenado e pregado na cruz. A cruz era
considerada um lugar absolutamente vazio da presença de Deus, a negação mais
absoluta de qualquer forma de liderança, sinônimo de horror, de fracasso, de
culpa, de impotência, de abandono. Tanto para os fiéis judeus como para os soldados
romanos, mas até para os discípulos, a crucifixão representava a completa
negação do ser humano, a mais radical falta de sentido. Por isso, a provocação
dos soldados faz sentido: “O Messias, o rei de Israel... Desça agora da cruz
para que vejamos e acreditemos”. Ele não desce, porque não veio para ser
servido e bajulado, mas para servir... Deus Pai-Mãe, compassivo e
misericordioso. Nós te louvamos e agradecemos
pelo dom da vida, pelo amor
com que cuidas de toda a criação. Em sua misericórdia, teu filho se fez
servidor dos empobrecidos e sofredores, e despertou neles a esperança de vida
plena e exuberante. Envia-nos teu Espírito. Que ele guie a tua Igreja e a
converta, a fim de que ela seja sempre mais anunciadora e ouvinte da tua
Palavra, servidora e missionária. E não se furte de dar sua contribuição para
que sejamos um país civilizado e justo, uma nação na qual todos os cidadãos
sejam reconhecidos em sua dignidade. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
Nenhum comentário:
Postar um comentário