Em nossas
constituições assim está expresso: “As origens da Ordem, o título da “Bem
Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo” e as antigas tradições espirituais
demonstram a índole mariana e bíblica da vocação carmelitana.
Ao escolher a
Virgem Maria como Mãe e Padroeira, a Ordem busca amparo sob sua proteção; e vê,
no mistério de sua vida e de sua união com Cristo, um modelo e ideal de
consagração. (const. Nº 2)
No número 9 de
nossas constituições ainda fala de modo muito claro a nossa pertença a Virgem
Maria: “Avocação das Carmelitas Descalças é um dom do Espírito, que as convida
a uma ‘misteriosa união com Deus’ vivendo em amizade com Cristo e em intimidade
com a Bem Aventurada Virgem Maria; a oração e a imolação fundem-se vivamente
com um grande amor a Igreja”.
E ainda no Nº 55
diz: “A contemplação da Virgem Maria realização perfeita do ideal do Carmelo,
torna-se luz para seguir os seus passos. Com efeito, ela sobressai entre os
humildes e os podres do Senhor, e é
exemplo eminente da vida contemplativa na Igreja. Cada Irmã acolha Maria como
Mãe e Mestra espiritual, para ser configurada a Cristo e chegar, assim ao
vértices da santidade”.
Santa Teresa |
Nossos santos carmelitas tinham
uma grande devoção a esta Mãe Santíssima. Santa Teresa nos relata esta
belíssima passagem do seu livro da Vida:
“Recordo-me que, quando morreu
minha mãe, fiquei da idade de doze anos, pouco menos. Quando comecei a perceber
o que tinha perdido, fui-me, aflita, a uma imagem de Nossa Senhora e supliquei-
Lhe, com muitas lágrimas, que fosse minha Mãe. Embora o fizesse com
simplicidade, parece-me que me tem valido; porque conhecidamente tenho
encontrado esta Virgem soberana, sempre que, me tenho encomendado a Ela, e,
enfim, tornou-me a Si.”(Livro da Vida, cap. 1,7)
“Procurava solidão para rezar as minhas
devoções que eram muitas, em especial o Rosário, do qual a minha mãe era muito
devota e assim nos fazia sê- lo.” .”(Livro da Vida, cap. 1,6)
Em uma de suas poesias São João
da Cruz descreve a grandeza da Mãe do céu, colocando ali o seu coração e a
devoção a sua Mãe Maria. Assim ele escreve:
São João da Cruz |
“Quando
foi chegado o tempo em que de nascer havia,
Assim
como desposado, do seu tálamo saia
Abraçando
a sua esposa, que em seus braços a trazia;
Ao
qual a bendita Mãe em seu presépio poria
Entre
pobres animais que então por ali havia.
Os
homens davam cantares, os anjos a melodia,
Festejando
o desposório que entre aqueles dois havia.
Deus,
porém, no presépio ali chorava e gemia;
eram
joias que a esposa ao desposório trazia;
E
a mãe se assombrava da troca que ali se via:
O
pranto do homem em Deus, e no homem a alegria;
coisas
que num e no outro tão diferente ser soía.
(Poesia
9 -Romance 9)
No Livro da Subida descrevendo a
união profunda da alma com Deus coloca Maria como o exemplo desta grande graça.
“...Só Deus é quem move as
potências dessas almas, para aquelas obras conforme a sua santa vontade e
divinos decretos, sem que possam agir de outro modo; a assim as obras e
súplicas dessas almas são sempre eficazes. Tais foram as da gloriosíssima
Virgem Nossa Senhora, elevada desde o princípio a este sublime estado; jamais
teve impressa na alma forma de alguma criatura, nem se moveu por ela; mas
sempre agiu sob a moção do Espírito Santo”.(III S 2,10)
Santa Teresa dos Andes procurava
em Maria o modelo para a sua vocação. Em uma carta ela assim relata:
Santa Teresa dos Andes |
“O que me faz amar mais minha
vocação é ver que a vida de uma carmelita é semelhante a da Santíssima Virgem.
Ela só orou, padeceu e amou. E tudo em silêncio. Além disso nossa Ordem é da
santíssima Virgem. Tenho dado mais de uma vez graças a minha Mãe Santíssima de
haver-me trazido a sua Ordem...(C138).
Ela não só o tem como modelo, mas
mais ainda como fonte e inspiração para a sua vida em busca da santidade e a
ela recorre em suas necessidades:
“Mãe minha, se tu minha mãe
recorda que me deu a ti. Guarda-me pura, virgem, em teu coração Imaculado. Que
ele seja o meu refúgio, minha esperança, meu consolo, minha solidão. Me ponho
em teus braços maternais para que tu me coloques nos de Jesus. Me abandono
neles que se faça a sua santa vontade”.
A carmelita que se destaca no
amor e na descrição de Maria de uma forma muito contemplativa é a Beata
Elisabete da Trindade. As palavras do Evangelho são inspiração para falar de
Maria. Ela assim relaciona as palavras de Jesus na vida de Maria:
Beata Elisabete da Trindade |
“Se conhecesses o dom de Deus!”
Houve uma criatura que conheceu este dom de DEUS, uma criatura que não
desperdiçou nenhuma parcela deste dom, uma criatura tão pura, tão luminosa que
parecia ser a própria Luz. Uma criatura cuja vida foi tão simples, tão absorta
em Deus, que quase nada se pode dizer a respeito dela.
“Virgo Fidelis” Virgem fiel, é
aquela “que guardava todas as coisas em seu coração”. Conservava-se tão pequena
e recolhida diante de Deus, no segredo do Templo, que atraiu sobre si as
complacências da Santíssima Trindade: “Porque olhou para a humildade de sua
serva, doravante as gerações todas me chamarão bem-aventurada! O Pai, ao
contemplar esta criatura tão bela e tão indiferente à própria beleza, quis que
ela fosse, no tempo, a Mãe daquele de quem ele é o Pai na eternidade. Veio,
então, sobre ela o Espírito de Amor, que preside a todas as operações divinas,
e a Virgem disse o seu Fiat: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim
segundo a vossa palavra”, e o maior dos mistérios se realizou. Pela descida do
Verbo nela, Maria tornou-se, para sempre, a presa de Deus.
Parece-me que a atitude da
Virgem, durante os meses que se passaram entre a Anunciação e o Natal, é o modelo das almas interiores,
desses seres por Deus escolhidos para viver “no interior”, no fundo do abismo
sem fundo. Com que paz e recolhimento Maria se submetia e se entregava a todas
as ocupações! Como as ações mais banais eram divinizadas nela! Porque, em tudo,
a Virgem permanecia a adoradora do dom de Deus em todos os seus atos. Esta
atitude não a impedia de doar-se exteriormente, quando a caridade o exigia. O
Evangelho narra que “Maria percorreu apressadamente as montanhas da Judéia,
pala dirigir-se à casa da sua prima Isabel. Jamais a visão inefável que ela contemplava
no seu interior diminuiu a sua caridade exterior, porque, conforme afirma um
autor piedoso, “se a contemplação conduz ao louvor e à eternidade de seu
Senhor, ela tem em si a unidade e não a perderá jamais”. Se lhe chega uma ordem
do céu, volta-se para os homens, compadece-se de todas as suas necessidades,
inclina-se sobre todas as suas misérias. Convém que ela chore e fecunde! A
contemplação ilumina como o fogo; como ele, queima, absorve e consome, elevando
para o céu tudo quanto destruiu. E uma vez cumprida a sua missão na terra,
levanta-se e empreende novamente o caminho para a altura, ardendo em seu
próprio fogo. ( Como encontrar o céu na terra 38, 39, 40).
Elisabete da Trindade relata que
desde a infância nutria a devoção a Maria.
“Em toda as festas de Maria,
renovo minha consagração a esta boa Mãe. Por isso hoje me confiei a ela, e
novamente lancei-me nos seus braços. Com
a mais inteira confiança, recomendei-lhe o meu futuro, a minha vocação. (Diário
2 fevereiro de 1899)”
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