Partilhamos a mensagem do Papa Francisco para este dia de oração e façamos nossas preces ao Bom Pastor que envie operários para a sua messe.
“Vocações, testemunho da verdade”
Amados irmãos e
irmãs!
1. Narra o Evangelho
que «Jesus percorria as cidades e as aldeias (...). Contemplando a multidão,
encheu-Se de compaixão por ela, pois estava cansada e abatida, como ovelhas sem
pastor. Disse, então, aos seus discípulos: “A messe é grande, mas os trabalhadores
são poucos. Rogai, portanto, ao Senhor da messe para que envie trabalhadores
para a sua messe”» (Mt 9, 35-38). Estas palavras causam-nos surpresa, porque
todos sabemos que, primeiro, é preciso lavrar, semear e cultivar, para depois,
no tempo devido, se poder ceifar uma messe grande. Jesus, ao invés, afirma que
«a messe é grande». Quem trabalhou para que houvesse tal resultado? A resposta
é uma só: Deus. Evidentemente, o campo de que fala Jesus é a humanidade, somos
nós. E a ação eficaz, que é causa de «muito fruto», deve-se à graça de Deus, à
comunhão com Ele (cf. Jo 15, 5). Assim a oração, que Jesus pede à Igreja,
relaciona-se com o pedido de aumentar o número daqueles que estão ao serviço do
seu Reino. São Paulo, que foi um destes «colaboradores de Deus», trabalhou
incansavelmente pela causa do Evangelho e da Igreja. Com a consciência de quem
experimentou, pessoalmente, como a vontade salvífica de Deus é imperscrutável e
como a iniciativa da graça está na origem de toda a vocação, o Apóstolo recorda
aos cristãos de Corinto: «Vós sois o seu [de Deus] terreno de cultivo» (1 Cor
3, 9). Por isso, do íntimo do nosso coração, brota, primeiro, a admiração por
uma messe grande que só Deus pode conceder; depois, a gratidão por um amor que
sempre nos precede; e, por fim, a adoração pela obra realizada por Ele, que
requer a nossa livre adesão para agir com Ele e por Ele.
2. Muitas vezes
rezamos estas palavras do Salmista: «O Senhor é Deus; foi Ele quem nos criou e
nós pertencemos-Lhe, somos o seu povo e as ovelhas do seu rebanho» (Sal 100/99,
3); ou então: «O Senhor escolheu para Si Jacob, e Israel, para seu domínio
preferido» (Sal 135/134, 4). Nós somos «domínio» de Deus, não no sentido duma
posse que torna escravos, mas dum vínculo forte que nos une a Deus e entre nós,
segundo um pacto de aliança que permanece para sempre, «porque o seu amor é
eterno!» (Sal 136/135, 1). Por exemplo, na narração da vocação do profeta
Jeremias, Deus recorda que Ele vigia continuamente sobre a sua Palavra para que
se cumpra em nós. A imagem adotada é a do ramo da amendoeira, que é a primeira
de todas as árvores a florescer, anunciando o renascimento da vida na Primavera
(cf. Jr 1, 11-12). Tudo provém d’Ele e é dádiva sua: o mundo, a vida, a morte,
o presente, o futuro, mas – tranquiliza-nos o Apóstolo - «vós sois de Cristo e
Cristo é de Deus» (1 Cor 3, 23). Aqui temos explicada a modalidade de pertença
a Deus: através da relação única e pessoal com Jesus, que o Batismo nos
conferiu desde o início do nosso renascimento para a vida nova. Por
conseguinte, é Cristo que nos interpela continuamente com a sua Palavra,
pedindo para termos confiança n’Ele, amando-O «com todo o coração, com todo o
entendimento, com todas as forças» (Mc 12, 33). Embora na pluralidade das
estradas, toda a vocação exige sempre um êxodo de si mesmo para centrar a
própria existência em Cristo e no seu Evangelho. Quer na vida conjugal, quer
nas formas de consagração religiosa, quer ainda na vida sacerdotal, é
necessário superar os modos de pensar e de agir que não estão conformes com a
vontade de Deus. É «um êxodo que nos leva por um caminho de adoração ao Senhor
e de serviço a Ele nos irmãos e nas irmãs» (Discurso à União Internacional das
Superioras Gerais, 8 de maio de 2013). Por isso, todos somos chamados a adorar
Cristo no íntimo dos nossos corações (cf. 1 Ped 3, 15), para nos deixarmos
alcançar pelo impulso da graça contido na semente da Palavra, que deve crescer
em nós e transformar-se em serviço concreto ao próximo. Não devemos ter medo:
Deus acompanha, com paixão e perícia, a obra saída das suas mãos, em cada
estação da vida. Ele nunca nos abandona! Tem a peito a realização do seu
projeto sobre nós, mas pretende consegui-lo contando com a nossa adesão e a
nossa colaboração.
3. Também hoje Jesus
vive e caminha nas nossas realidades da vida ordinária, para Se aproximar de
todos, a começar pelos últimos, e nos curar das nossas enfermidades e doenças.
Dirijo-me agora àqueles que estão dispostos justamente a pôr-se à escuta da voz
de Cristo, que ressoa na Igreja, para compreenderem qual possa ser a sua
vocação. Convido-vos a ouvir e seguir Jesus, a deixar-vos transformar
interiormente pelas suas palavras que «são espírito e são vida» (Jo 6, 63).
Maria, Mãe de Jesus e nossa, repete também a nós: «Fazei o que Ele vos disser!»
(Jo 2, 5). Far-vos-á bem participar, confiadamente, num caminho comunitário que
saiba despertar em vós e ao vosso redor as melhores energias. A vocação é um
fruto que amadurece no terreno bem cultivado do amor uns aos outros que se faz
serviço recíproco, no contexto duma vida eclesial autêntica. Nenhuma vocação
nasce por si, nem vive para si. A vocação brota do coração de Deus e germina na
terra boa do povo fiel, na experiência do amor fraterno. Porventura não disse
Jesus que «por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos
amardes uns aos outros» (Jo 13, 35)?
4. Amados irmãos e
irmãs, viver esta «medida alta da vida cristã ordinária» (João Paulo II, Carta
ap. Novo millennio ineunte, 31) significa, por vezes, ir contra a corrente e
implica encontrar também obstáculos, fora e dentro de nós. O próprio Jesus nos
adverte: muitas vezes a boa semente da Palavra de Deus é roubada pelo Maligno,
bloqueada pelas tribulações, sufocada por preocupações e seduções mundanas (cf.
Mt 13, 19-22). Todas estas dificuldades poder-nos-iam desanimar, fazendo-nos
optar por caminhos aparentemente mais cômodos. Mas a verdadeira alegria dos
chamados consiste em crer e experimentar que o Senhor é fiel e, com Ele,
podemos caminhar, ser discípulos e testemunhas do amor de Deus, abrir o coração
a grandes ideais, a coisas grandes. «Nós, cristãos, não somos escolhidos pelo
Senhor para coisas pequenas; ide sempre mais além, rumo às coisas grandes.
Jogai a vida por grandes ideais!» (Homilia na Missa para os crismandos, 28 de
Abril de 2013). A vós, Bispos, sacerdotes, religiosos, comunidades e famílias
cristãs, peço que orienteis a pastoral vocacional nesta direção, acompanhando
os jovens por percursos de santidade que, sendo pessoais, «exigem uma
verdadeira e própria pedagogia da santidade, capaz de se adaptar ao ritmo dos
indivíduos; deverá integrar as riquezas da proposta lançada a todos com as
formas tradicionais de ajuda pessoal e de grupo e as formas mais recentes
oferecidas pelas associações e movimentos reconhecidos pela Igreja» (João Paulo
II, Carta ap. Novo millennio ineunte, 31)
Disponhamos, pois, o
nosso coração para que seja «boa terra» a fim de ouvir, acolher e viver a
Palavra e, assim, dar fruto. Quanto mais soubermos unir-nos a Jesus pela
oração, a Sagrada Escritura, a Eucaristia, os Sacramentos celebrados e vividos
na Igreja, pela fraternidade vivida, tanto mais há de crescer em nós a alegria
de colaborar com Deus no serviço do Reino de misericórdia e verdade, de justiça
e paz. E a colheita será grande, proporcional à graça que tivermos sabido, com
docilidade, acolher em nós. Com estes votos e pedindo-vos que rezeis por mim,
de coração concedo a todos a minha Bênção Apostólica.
Vaticano, 15 de
Janeiro de 2014
Francisco
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