Vivemos para comunicar o Evangelho de Jesus
Cristo!
Com a presença de Jesus, a casa de André, de
Pedro e de todos os discípulos e discípulas se converte em espaço de acolhida e
resgate da vida. Parece que Jesus desconhece a separação entre espaço público e
espaço privado, e que sua ação libertadora não conhece fronteiras: ele não opõe
religião e política, une oração e ação, transita livremente das sinagogas às
casas, rejeita a precedência dos homens em relação às mulheres, supera o
moralismo que impõe o respeito às autoridades e faz pouco caso do povo simples,
une de forma indissolúvel o amor a Deus ao amor ao próximo...
Em tudo o que faz e diz, Jesus é a encarnação
da Boa Notícia de Deus, especialmente para quem leva a vida como um fardo. Seu
Evangelho faz calar o discurso pesado das elites e as decisões impostas de
cima, que insistem nos débitos e culpas do povo. Ele ensina e anuncia com
autoridade, pois consolida seu ensinamento em ações e relações solidarias e evita
palavras vazias e frases de ocasião. Por fim, Jesus é Boa Notícia de Deus porque
não se prende a templos e lugares, tem diante de si a humanidade inteira, vai
ao encontro dos que ‘estão longe’, sai ao encontro da ovelha amada, faz-se
próximo dos ‘últimos’.
No evangelho de hoje, a sogra de Pedro representa
a humanidade oprimida por doenças, poderes e doutrinas que discriminam e
condenam. Limitadas ao mundo privado, quando adoeciam, as mulheres eram ainda
mais segregadas, inclusive no próprio espaço doméstico. Nessa dominação, a
ideologia da impureza torna ainda mais pesado machismo cultural. Num mundo no
qual predomina a figura masculina, Jesus se importa com a febre de uma mulher,
rompe as barreiras culturais e toca no seu corpo. Ele vai onde ela está, segura
ela pela mão e a coloca em pé, sem esperar que alguém o peça!
Numa sociedade que sujeita os mais fracos e
mantém multidões dependentes dos poderosos, Jesus ajuda o povo caminhar com os
próprios pés. Aquela mulher, que antes estava segregada e dependente por causa
da doença, descobre sua capacidade de servir, torna-se ‘diaconisa’. E não se
trata de um simples serviço subalterno ao qual as mulheres são usualmente
subordinadas... Mas, longe de se deixar prender às necessidades do estreito
círculo dos discípulos e de cair num ativismo curandeiro, Jesus ensina que seu
Evangelho não reconhece fronteiras e encontra na oração o respiro purificador
de que necessita.
A seu modo, Paulo sublinha que viver e
anunciar essa Boa Notícia não é algo como uma opção, algo que podemos assumir
ou não, uma atividade entre outras. Tampouco é um empenho em vista de algum
tipo de remuneração. Evangelizar é uma missão que nos é confiada, solicitada, e
nossa honra é realizá-la de forma gratuita e livre, sem buscar compensações,
como nos demonstrou Jesus. É dessa missão recebida em confiança e como dever que
nasce a liberdade do missionário: livre da necessidade de buscar vantagens, ele
adquire a capacidade de servir a todos, sem servir-se de ninguém.
Paulo VI ensina que a missão da Igreja é
evangelizar, e o Papa Francisco destaca que o fruto do encontro com o Evangelho
de Jesus é sempre a alegria, e não o medo ou a resignação. Por seu modo de ser
e de agir, Jesus deixa muito claro que entende sua missão como peregrinar pelo
mundo instalando ‘hospitais de campanha’, e não construindo ‘alfândegas e
tribunais’! Para ser fiel a ele, a Igreja precisa evangelizar trabalhando para
que todas as pessoas, começando por aquelas que, como Jó, conhecem a vida apenas
como sofrimento, peso e decepção, coloquem-se de pé, libertas, dignas e servidoras.
Mas faz parte da evangelização, porque fez
parte da missão de Jesus, “impedir que os demônios falem”. E eles falam quando
caçam a palavra original de cada pessoa ou povo e os fazem simples repetidores
de discursos moralizantes e excludentes, ou quando atribuem a Deus a causa do
sofrimento, da doença e da opressão. Hoje, essa voz demoníaca corre solta nos
grandes meios de comunicação, quando se fazem porta-vozes das mentiras de um
governo que trata como remédio o veneno que serve ao povo em suas contrarreformas,
mas também nas redes sociais e até nas Igrejas, quando vomitam ódios contra
lideranças populares, fecham-se a qualquer inovação ou doutrinam para dominar e
acumular vantagens.
Querido Jesus, tu vens à nossa casa, e à tua
casa que é a Igreja, pois tua Boa Notícia não fronteiras. Ensina-nos a sair de
nós mesmos e dos nossos templos para estendermos a mão a todas as pessoas
encurvadas sob o peso de tantos fardos econômicos,
culturais e religiosos. Dá-nos a coragem de seguir teu exemplo e fazer do
serviço aos nossos povos nosso tesouro e destino, de fazermo-nos fracos com os
fracos, tudo para todos. E isso, por causa do Evangelho, cujo anúncio é para
nós uma necessidade que vem da profundidade da fé e o motivo das nossas maiores
alegrias, como ensina Paulo. Amém! Assim seja!
Itacir Brassiani msf
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