Adoremos a Deus em espírito e verdade, em ação
e fidelidade!
No terceiro domingo da quaresma, somos
convidados a descobrir o modo como se manifesta a presença de Jesus no meio de
nós e desfrutar dessa presença maravilhosa, movente e comovente. Ele vem ao nosso
encontro como pedinte e necessitado, desce às profundezas da condição humana,
derruba os muros, relativiza as ideologias que separam e opõem, liberta das
rotinas que causam dependência e desperta nossa sede de viver e de servir. O vida é dom de Deus, e não conhece limites nem
fronteiras, diversamente do poço de Jacó, que cava divisões aparentemente
insuperáveis.
No evangelho de hoje, João nos apresenta Jesus
como sacramento vivo de um Deus que vem ao nosso encontro. Ele se aproxima
cansado, sedento, necessitado, pedinte. O mesmo Deus que, na travessia do
deserto, fez brotar água da rocha, aparece percorrendo nossas estradas e
pedindo água. E assim o faz para suscitar uma profunda troca de dons, para
ajudar-nos a descobrir nossas próprias sedes, nosso Desejo mais profundo:
conhecê-lo e viver plenamente. “Dá-me desta Água Viva!”
Como aquela mulher da Samaria, frequentemente
imaginamo-nos poderosos e entregamo-nos cegamente às regras e doutrinas,
tradições e leis, e não esperamos nada de novo. Cavamos poços e inventamos
muros que separam povos, religiões e culturas, e esquecemos nossa própria Sede,
aquilo que nos falta. Fazemos de conta que as instituições que criamos nos
bastam, e que fora delas não há vida possível e desejável. “Tu não tens balde e
o poço é fundo... Como vais tirar esta água viva?”
Jesus aparece e entra na nossa vida para nos
lembrar que as religiões e culturas, as tradições e leis não têm condições de,
por si mesmas, saciar as mais profundas sedes humanas. A função da religião não
é estancar, mas manter viva aquela Sede que dinamiza a vida do ser humano, que
convida a trilhar caminhos não conhecidos, que faz descobrir novas
possibilidades de organizar o mundo e a sociedade, que revela brechas
alternativas de comunhão e solidariedade entre os povos.
Como a samaritana, nos também fazemos alianças
e buscamos muletas – mais que cinco! – capazes de sustentar nossos interesses
estreitos e egoístas: a pátria, a raça, a religião, a igreja, o partido, o
livre mercado... Acreditamos cegamente que eles nos ajudam a crer de modo
correto e a viver com segurança. “Os nossos pais adoraram Deus sobre este
monte, mas vocês dizem que é em Jerusalém que se deve adorá-lo”, disse a
mulher. Fora disso, no máximo, ensaiamos uma pobre oração pelos que sofrem...
Precisamos compreender que Deus procura
verdadeiros adoradores, pessoas que o adorem em espírito e verdade, ou melhor, em
ação e fidelidade. Estes são os discípulos e discípulas que, como o Mestre, têm
como alimento o desejo de fazer a vontade de Deus, participam da sua obra e a
completam: produzem vida abundante para seu povo, geram mais solidariedade que
divisão, valorizam e cuidam dos diversos biomas, exercitam mais acolhida que a
doutrina, propõem mais ações que palavras.
Com seu jeito de se aproximar e sua acolhida
sem limites, Jesus leva aquela mulher da Samaria a descobrir sua própria
verdade. E então ela deixa de repetir mecanicamente as ações determinadas pelo
hábito, pela cultura e pela condição social e se torna “uma fonte de água que
jorra para a vida eterna”. Ela deixa o balde e corre à cidade para anunciar:
“Venham ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Não seria ele o Messias?”
Aquela que era desprezada renasce como missionária!
Como anuncia Paulo, por meio de Jesus Cristo
estamos em paz com Deus e somos dinamizados pela esperança. Esta esperança não
engana, pois o amor de Deus já nos envolve e guia, mediante o Espírito Santo. E
isso não porque já estejamos plenamente convertidos ou isentos de pecado. Deus
demonstra seu amor porque se entrega por nós sem se importar com o fato de
ainda sermos pecadores e na compreendermos e vivermos adequadamente seu
Evangelho. Eis a razão de nossa esperança!
Jesus, peregrino no meio-dia da história, água
que sacia nossa sede! Tu és Senhor e ages como irmão, és semeador que convida à
colheita, és profeta que desperta nossa profecia. Como a mulher da Samaria,
estamos demasiadamente seguros das doutrinas que recebemos da tradição. Por
isso, te pedimos: toca com tua mão, ou com o teu chicote, as pedras das nossas
instituições e a crosta do nosso coração, e liberta a água viva e livre que elas
aprisionam. E faz com que todos os que viemos a este encontro contigo experimentemos
tua santa liberdade e nos tornemos testemunhas intrépidas de uma religião que
não se compraz na simples repetição de doutrinas e na celebração de ritos.
Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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