Fr. Ciro Garcia, ocd.
Resumidamente comento as intenções missionárias dos meses de agosto e
setembro. Embora em si sejam diferentes, convergem para a mesma realidade central
da fé e evangelização. São um convite não somente à oração, mas também ao
compromisso missionário. Os recolho em quatro pontos.
1.Educar os jovens numa
consciência reta e numa vida coerente. É a intenção geral do mês de
agosto: "Que pais e educadores ajudem as novas gerações a crescer com uma
reta consciência e numa vida coerente." Prestar atenção ao mundo juvenil,
saber ouvi-lo e valorizá-lo, não é somente uma oportunidade, mas um dever
primário de toda a sociedade, para construir um futuro de justiça e de paz. Os
jovens, com seu entusiasmo e impulso na direção do ideal, podem oferecer uma
nova esperança ao mundo.
A educação é a aventura mais fascinante e difícil da vida. Corresponde aos
pais, às famílias e a todos os segmentos educativos e formativos. Tem de se
transmitir aos jovens, especialmente o respeito pela dignidade da pessoa e o
apreço pelo valor positivo da vida, suscitando neles o desejo de gastá-lo no
serviço do bem. Por isso, os educadores têm que estar dispostos a dar-se a si
mesmos, sendo testemunhas autênticas e não apenas dispensadores de regras ou
informações. A testemunha é a primeira a viver o caminho que propõe.
A tarefa educacional atravessa hoje dificuldades especiais, tanto na
família como nos contextos educativos. Por isso temos que orar e lutar para que
todo o ambiente educacional seja um lugar de abertura ao outro, à convivência, à
solidariedade; um lugar de diálogo, de coesão
e de escuta, onde o jovem se sinta valorizado e também aprenda a valorizar os
outros; um lugar, em suma, que ensine a saborear a alegria que brota da
participação ativa na construção de uma sociedade mais humana e fraterna.
2. Construção da paz e da justiça
na África. É a intenção missionária especial do mesmo mês de agosto:
"Que as igrejas locais na África, fiéis ao Evangelho, promovam a
construção da paz e da justiça". Embora a construção de uma ordem social
justa é em primeira instancia uma tarefa da política, no entanto, "uma das
tarefas da Igreja na África consiste em formar consciências retas e receptivas
às exigências da justiça, para que sejam cada vez mais os homens e mulheres comprometidos
e capazes de realizar essa ordem social justa através de um comportamento
responsável "(Africae munus", 19 de novembro de 2011).
Esta exigência missionária parte da frágil realidade sócio política do
continente Africano. A falta de paz e de justiça é uma realidade lacerante em
África: revoltas populares em África do Norte, derrocamentos de governos, eleições
na maior parte dos países sem democracia e transparência, o empobrecimento das
massas, o uso de crianças em conflitos armados , estupros de mulheres,
perseguições dos cristãos ... são indicadores reais que nos mostram o rosto
sombrio de África. Daí a necessidade de "evangelizar em profundidade a
alma Africana" (AM 91).
3. Redescobrir o valor do silêncio
no meio do barulho. A intenção missionária geral do mês de setembro:
"Que os homens e mulheres do nosso tempo, muitas vezes sobrecarregados
pelo ruído, redescubram o valor do silêncio e saibam ouvir a Deus e ao
próximo." O silêncio é parte integrante da comunicação; sem ele não existem
palavras com densidade de conteúdo. No silêncio, ouvimos e conhecemos melhor a nós
mesmos. Teresa de Jesus, a grande mestra de oração, é também a grande mestra do
silêncio e da contemplação, como espaço de escuta que possibilita a relação
autêntica com Deus e com os outros.
Nas diversas tradições religiosas, a solidão e o silêncio são espaços
privilegiados para ajudar as pessoas a reencontrar-se consigo mesmas e com a
Verdade que dá sentido a todas as coisas. No silêncio, falam a alegria, as preocupações,
o sofrimento, que encontram nele uma ressonância mais profunda e uma expressão mais
intensa. O silêncio dilata a capacidade
de escuta e faz brotar uma comunicação mais exigente; nos abre à transcendência que ilumina toda a
realidade. Por isso, é necessário criar um ambiente propício, quase uma espécie
de "ecossistema", como aquele que criou Teresa de Ávila para seus
Carmelos, que saiba equilibrar o silêncio, escuta, contemplação, comunicação,
expressão e evangelização.
Aprender a comunicar significa aprender a escutar, a contemplar. Isto é
especialmente importante para os agentes da evangelização: silêncio e palavra
são elementos essenciais e integrantes da ação comunicativa da Igreja para um
renovado anúncio de Cristo no mundo de hoje.
4. Testemunhar o amor de Cristo na
perseguição. É a intenção missionária especial do mês de setembro:
"Que os cristãos perseguidos possam testemunhar o amor de Cristo." São
preocupantes as dificuldades que tanto os cristãos como os seguidores de outras
religiões encontram com frequência para professar pública e livremente as suas
próprias convicções religiosas. Existem regimes que impõem a todos uma única
religião, outros alimentam não tanto uma perseguição violenta, senão um assédio
cultural sistemático às crenças religiosas, que não respeitam o direito humano
fundamental. Por isso a Igreja se faz porta voz dos direitos fundamentais de
cada pessoa; em particular, reivindica o respeito à vida e à liberdade
religiosa de todos, sobre a arbitrariedade dos poderes humanos.
Orar com o Papa por esta intenção e testemunhar o amor de Cristo em tais circunstâncias
adversas, é a consigna evangélica de todos os discípulos e anunciadores do
Evangelho.
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