Caminho de Perfeição, Caminho de Busca
Frei Ciro Garcia, carmelita, falando do Caminho de
Perfeição, livro escrito por Santa Teresa, diz que ele traça o itinerário da
busca de Deus e assinala algumas características: “A busca não é só um fato
religioso, senão que responde à inquietude mais profunda do ser humano
essencialmente buscador.Caminho de
Perfeição traça o itinerário desta busca. Assinalo algumas características
seguindo o desenrolar do Caminho e de
meu próprio caminho de busca:
a) É uma busca que brota do
mais profundo do coração humano e da história; assim a delineia Teresa nos
capítulos iniciais.
b) Não é uma busca solitária
senão em comunhão, formando uma comunidade arraigada em ‘grandes virtudes’, com
seu característico estilo de vida e sua prórpia linguagem de grupo.
c) Não é tão pouco um
fechamentopsicológico no oásis da contemplação, senão uma luta permanente na
vida; é a conquista do eu pessoal, porém aberto ao absoluto e ao infinito, em
uma relação dialógica com o Outro, Deus, percebido no centro da vida.
d) Tem caminhos de
interioridade e de recolhimento, porém se dá também no caminho de serviço
evangélico; a contemplação não é o único caminho para chegar à união; a
essência da união radica no amor e no serviço evangélico, que se desdobra em
duplo caminho: o da ação serviçal e o da contemplação gozosa, figurado no
Evangelho pelas duas irmãs de Betânia, Marta e Maria.
e) Requer uma “determinada
determinação”, porém tudo se resolve na dinâmica da entrega e do amor: “dar-nos
de todo ao Criador e por nossa vontade na sua”; é dar-se de todo ao que dele
tudo se nos dá.
f) É centrar-se em Cristo, centrar o olhar nele, aconchegar-se a
ele, a sua presença, a sua companhia, porém ao mesmo tempo é “entrar dentro de
si”, no templo do próprio espírito.
g) É a revelação de grandes
verdades, que ficam como esculpidas na alma, de maneira que
já não perderá mais a “memória de Deus”; se lhe revelam grandes segredos do
mundo, que parece os vê no mesmo Deus.
h) Se consuma na união com
Deus, meta do contemplativo e de todo buscador, porém não é idílio ou remanso
amoroso, senão também luta e trabalho, em união ou conformidade de vontades;
ela não deseja outra união para si e para suas filhas que esta conformidade de
vontades; é dar nossa vontade de todo ,
para que Ele faça a sua em tudo.
i) É, em definitiva, uma
experiência de salvação, a experiência de salvação orada no Pai Nosso, que
experimenta a comunhão com o Pai por seu Filho Jesus Cristo e o dom do
Espírito, e ao mesmo tempo o perdão dos pecados; rsponde aos anelos profundos
do homem: é o Deus misericordioso que perdoa os pecados, o Senhor que nos
liberta de todos os males e preserva das provas, que não somos capazes de
combater.
j) Esta busca de salvação é o desejo mais ardente
do ser humano, como libertação do mal e dos pesos inibidores da vida, que
experimentamos como culpa, medo/angústia e preocupação; rsponde a perspectiva
psicológica e curadora da salvação que se dsprendem do encontro com Deus.
k) Porém e experiência plena
de salvação não é a simples libertação do mal senão a comunhão com o bem
absoluto e com o amor encarnado, que é Deus Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo e
Pai nosso, tão vivamente evocado por Teresa em seu comentário aos primeiros
pedidos.
l) Por isso a oração
teresiana e, em particular, a oração cristã por excelência, o Pai Nosso,
expressa um caminho de busca evangélica, que responde aos anelos mais profundos
do coração humano de salvação e de comunhão, pois Deus revestiu ao homem de
transcendência, lhe fez cada Dele e portador de sua imagem.
A busca de Teresa de Jesus se inicia
com a busca da veracidade e da autenticidade de sua vida. Encontra sua resposat
na contemplação de um “Cristo mui chagado”, que lhe revela todo seu amor e
ascende nela o desejo ardente de corresponder a seu amor na oração como “trato
de amizade com Deus” (V 8,5). Este é o programa de vida que traça para suas
filhas e para todos seus leitores. Ela é a mestra de oração por antonomasia, a
oração de encontro com Deus. É a oração que parte da vida e volta à vida. Porém
tem seu enraizamento na Palavra de Deus. Seu centro de gravidade é a pessoa de
Cristo em seus mistérios, particularmente o de sua humanidade (V 22; M 6,7). E
alcança seu ponto culminante no mistério trinitário (Caminho de Perfeição,
Castelo Interior).
(Frei Ciro Garcia, OCD)
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